O Estado de São Paulo, n. 46837, 11/01/2022. Política, p. A7

Bolsonaro vê "carta agressiva" e diz que não acusou a Anvisa
Iander Porcellla
11/01/2022



Dois dias após ser cobrado publicamente para que se retratasse, o presidente Jair Bolsonaro se disse surpreso com o que chamou de "carta agressiva" do chefe da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antonio Barra Torres. Bolsonaro afirmou não ter acusado o almirante de corrupção e mudou o tom das insinuações, mas voltou a levantar dúvidas sobre as "intenções" da Anvisa ao recomendar a vacinação de crianças entre 5 e 11 anos contra a covid.

"Me surpreendi com a carta dele. Carta agressiva, não tinha motivo para aquilo. Eu falei: 'O que está por trás do que a Anvisa vem fazendo?' Ninguém acusou ninguém de corrupção. Por enquanto, não tenho o que fazer no tocante a isso aí", disse Bolsonaro em entrevista à rádio Jovem Pan.

No último sábado, Barra Torres rebateu Bolsonaro e cobrou uma retratação pública, dois dias após o presidente questionar os "interesses" de integrantes da Anvisa, ao reclamar do aval à vacinação infantil. "Se o senhor não possui tais informações ou indícios, exerça a grandeza que o seu cargo demanda e, pelo Deus que o senhor tanto cita, se retrate", escreveu o militar da reserva da Marinha, ao desafiar o presidente a apontar indícios de corrupção contra ele.

Barra Torres deu tom desafiador e pessoal à nota, assumindo para si uma insinuação que Bolsonaro fez genericamente à Anvisa.

Indicado por Bolsonaro, Barra Torres não pode ser demitido antes de 2025, como prevê a legislação

'LUZ PRÓPRIA'. Na entrevista, o presidente disse que a Anvisa é um órgão independente, não sofre interferência, mas que o trabalho "poderia ser diferente". "Não estou acusando a Anvisa de nada. Agora, se tem alguma coisa acontecendo, não há a menor dúvida", afirmou ele, que falou em "segundas intenções" da agência.

Bolsonaro também disse que Barra Torres ganhou "luz própria" depois de ter sido indicado para o cargo. "Eu sei que é ele quem decide", afirmou. "Eu não tinha convivência com ele, se tivesse tido convivência, talvez não o indicasse. Não quero dizer com isso qualquer crítica desabonadora ao almirante Barra Torres."

O presidente da Anvisa não pode ser demitido do cargo antes de 2025, de acordo com a legislação vigente.