O Estado de São Paulo, n. 46838, 12/01/2022. Economia & Negócios, p. B1

Inflação é a maior desde 2015, e novo estouro da meta é esperado para 2022
Daniela Amorim
12/01/2022



Indicadores Pressão no bolso Puxado por combustíveis, gás de cozinha e energia, IPCA fechou 2021 em 10,06%; para este ano, analistas projetam variação de até 5,8%, acima do teto da meta do BC

Puxado principalmente pelos aumentos de combustíveis, gás de cozinha e energia elétrica, o IPCA, índice oficial de inflação do País, fechou 2021 em 10,06%. É o maior patamar desde 2015, no governo Dilma Rousseff, quando o indicador ficou em 10,67%. O resultado superou consideravelmente a meta de 3,75% para o ano perseguida pelo Banco Central, chegando quase ao dobro do teto de tolerância, de 5,25%.

Para este ano, a perspectiva inicial é de um arrefecimento dos preços. O que não quer dizer, no entanto, que será um cenário tranquilo. O centro da meta de inflação, de 3,5%, não deverá ser alcançado novamente – e isso é unanimidade no mercado. Boa parte dos economistas enxerga o teto de tolerância, de 5%, praticamente como o piso. No Boletim Focus divulgado esta semana pelo BC, a expectativa do mercado era de um IPCA de 5,03%, o que já significaria o segundo estouro consecutivo da meta.

No mercado, há analistas prevendo até números maiores. A projeção da XP, por exemplo, é de alta de 5,2%. Da Garde Asset, de 5,3%. Já a gestora Quantitas trabalha com um número de 5,8%. "Não estamos vendo nos números observados uma tendência de suavização da inflação no curto prazo", disse o economista João Fernandes, sócio da Quantitas. "Os efeitos da política monetária (alta dos juros) e da atividade econômica enfraquecendo vão fazer a inflação ficar menor ao longo de 2022, só que o risco parece estar migrando para que isso não aconteça em março ou abril, mas, sim, em maio ou julho. O risco é termos um primeiro semestre muito ruim, com uma melhora só a partir da segunda metade do ano."

Com a ajuda da redução dos preços de combustíveis pela Petrobras nas refinarias na reta final do ano, o IPCA até desacelerou em dezembro na comparação com novembro – saiu de 0,95% para 0,73%. Ontem, porém, a estatal anunciou um novo reajuste de até 8% para a gasolina e o óleo diesel, o que deve ajudar a pressionar a inflação neste início de ano.

Os alimentos também podem ajudar a manter a inflação elevada neste início de ano, principalmente por conta do impacto das chuvas fortes no Sudeste e do forte calor no Sul, que devem ter impactos negativos nas lavouras, segundo o economista André Braz, da FGV. A energia elétrica é outra que deve continuar contribuindo para os preços em alta. Pelo menos até abril está prevista a manutenção da bandeira tarifária "escassez hídrica", que acrescenta R$ 14,20 às contas de luz a cada 100 quilowatt/hora consumidos.

PESO. Em 2021, 88% dos produtos e serviços acompanhados pelo IBGE tiveram elevação nominal de preços. Apesar dessa disseminação, apenas 10 itens foram responsáveis por 58,65% da alta do IPCA, por conta do seu impacto dentro do orçamento das famílias e peso específico na fórmula de cálculo do índice. A campeã, nesse aspecto, foi a gasolina, com encarecimento de 47,49% e impacto de 2,34 pontos porcentuais na inflação total, seguido pela energia elétrica, 21,21% mais cara (0,98 ponto porcentual).

Os demais vilões do orçamento das famílias no ano foram automóvel novo (alta de 16,16% e impacto de 0,48 ponto porcentual); gás de botijão (36,99% e 0,41 ponto); etanol (62,23% e 0,41 ponto); refeição fora de casa (7,82% e 0,29 ponto); automóvel usado (15,05% e 0,28 ponto); aluguel residencial (6,96% e 0,26 ponto); carnes (8,45% e 0,25 ponto); e produtos farmacêuticos (6,18% e 0,20 ponto porcentual).

Entre os grupos, o resultado de 2021 foi puxado, principalmente, por Transportes, com alta de 21,03% e impacto de 4,19 pontos porcentuais. Habitação subiu 13,05%, com contribuição de 2,05 pontos porcentuais, enquanto o grupo Alimentação e Bebidas aumentou 7,94%, com impacto de 1,68 ponto porcentual.