Título: Juros ao consumidor disparam
Autor: Rafael Rosas
Fonte: Jornal do Brasil, 15/03/2005, Economia & Negócios, p. A21

Instituições financeiras ampliam aperto do Banco Central e elevam taxas em ritmo dez vezes superior ao da Selic em fevereiro

Na semana em que o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) se reune para definir o novo patamar dos juros básicos da economia brasileira, pesquisa divulgada pela Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac) revela que as taxas cobradas pelo mercado para pessoa física e pessoa jurídica deram novo salto em fevereiro.

Na média, as pessoas físicas pagam 5,42 pontos percentuais a mais de juros em fevereiro, enquanto a Selic subiu apenas 0,50 ponto de janeiro para o mês passado. Em janeiro, a média estava em 140,58% ao ano (7,59% ao mês), avançando no mês passado para 146% ao ano (7,79% ao mês).

O resultado deixa o consumidor preocupado, já que, para março, analistas projetam, em média, nova alta de 0,50 ponto para os juros básicos.

Todas as altas registradas nas seis linhas de crédito pesquisadas em fevereiro ficaram acima do avanço da Selic.

O maior avanço ficou por conta do Crédito Direto ao Consumidor (CDC bancário), que passou de 46,44% ao ano (3,23% ao mês) em janeiro para 57,90% ao ano (3,88% ao mês), atingindo o maior nível desde novembro de 2003.

Mesmo com o expressivo aumento no mês passado, o CDC ainda é a linha em que o consumidor paga a menor taxa. Depois dele, vem, pela ordem: juros no comércio (103,51% ao ano), empréstimo pessoal em bancos (107,69% a.a.), cheque especial (164,12% a.a.), cartão de crédito (218,32% a.a.) e empréstimo pessoal em financeiras (285,86% a.a.).

O economista Roberto Zentgraf, coordenador do MBA em Finanças do Ibmec-RJ, recomenda que os consumidores endividados troquem dívidas caras por débitos mais baratos.

- Quem tem uma dívida com financeira, no cartão de crédito ou no cheque especial, pode pedir um empréstimo pessoal para um banco, quitar a pendência anterior e passar a pagar um juro bem menor, que não vai crescer indefinidamente - afirma.

Segundo o economista, outra alternativa para o consumidor que declara Imposto de Renda é a antecipação da restituição junto a algum banco, conforme noticiou o Jornal do Brasil na edição do último domingo.

- Os bancos oferecem a restituição a uma taxa entre 3,4% e 3,5%, no máximo. Vale a pena pegar o dinheiro, quitar uma dívida e depois pagar o novo débito quando o dinheiro da Receita sair - diz.

Para os consumidores que não tem a opção de trocar a dívida ou adiantar a restituição de IR, Zentgraf garante ser mais vantajoso vender algum ativo ou tirar dinheiro da caderneta de poupança.

- Não faz sentido você manter uma aplicação que te rende 1% ao mês enquanto você paga uma dívida de mais de 4%, 5% mensais - ensina.

Para as empresas, a taxa média de juros apurada pela Anefac pulou de 69,39% ao ano em janeiro (4,49% ao mês) para 72,73% ao ano (4,66% ao mês) em fevereiro, o maior patamar desde outubro de 2003.

A maior elevação para as pessoas jurídicas ocorreu nos empréstimos para capital de giro, cujas taxas passaram de 62,71% ao ano em janeiro para 70,17% a.a. no mês passado, maior taxa desde junho de 2003.

As empresas, no entanto, encontram a maior taxa de juros nos empréstimos da conta garantida, 96,04% ao ano, o maior nível desde julho do ano passado.

Nas demais linhas analisadas pela Anefac, as pessoas jurídicas pagam taxas médias de 62,90% ao ano para o desconto de duplicata (maior patamar desde fevereiro de 2004) e 63,27% ao ano para desconto de cheque, a mais elevada desde janeiro de 2004.

Numa indicação de que os juros no mercado podem continuar subindo em março, a Fundação Procon-SP divulgou ontem pesquisa - realizada nos dias 7 e 8 deste mês em dez instituições financeiras - sobre os juros cobrados pelos bancos no cheque especial e nas operações de empréstimo pessoal.

No cheque especial, a taxa média aumentou 0,07 ponto percentual, de 8,12% para 8,19% ao mês, alcançando o maior patamar desde dezembro de 2003, quando estava em 8,20% ao mês.

No caso do empréstimo pessoal, a taxa média passou de 5,25% para 5,34% ao mês, atingindo a maior marca desde fevereiro do ano passado (5,35% ao mês).