O Globo, n. 32048, 05/05/2021. País, p.6

 

 

Senadores devem votar convocação de Paulo Guedes

Críticas de Mandetta a ministro da Economia reacenderam ideia de Ievá-Io à CPI. Proposta de Randolfe teve apoio de Renan

 

NATÁLIA PORTINARI E ANDRÉ DE SOUZA

opais@oglobo.com.br

 

Após o depoimento do ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta na CPI da Covid, a comissão deve deliberar sobre a convocação do ministro da Economia, Paulo Guedes. O senador Randolfe Rodrigues (RedeAP), vice-presidente da CPI, quer votar a convocação na sessão de hoje — o colegiado se reunirá para ouvir Nelson Teich, que ficou menos de um mês à frente da Saúde.

Mandetta falou sobre momentos em que teve divergências com o titular da Economia, a quem acusou de desonestidade intelectual. Guedes disse, recentemente, que liberou R$ 5 bilhões que poderiam ter sido usados para a compra de imunizantes. Mandetta rebateu essa declaração, já que, quando estava à frente da pasta, as negociações sobre vacinas ainda estavam incipientes:

— Esse ministro não soube nem olhar o calendário para falar “poxa, enquanto ele estava lá, nem vacina sendo comercializada no mundo havia”. Só posso lamentar.

O requerimento de convocação de Guedes deve ser votado hoje, assim como o de Fábio Wajngarten, ex-secretário especial de Comunicação Social do governo Bolsonaro, e o de Anderson Torres, ministro da Justiça.

—Mandetta disse que Paulo Guedes, surpreendentemente para mim, foi antagônico ao ministério, à ciência e a ele. Por isso, o Randolfe o convocou — diz Renan Calheiros (MDB-AL), relator da CPI, que diz ser favorável a chamar Guedes.

A minuta de um plano de trabalho inicial da CPI trazia Guedes como um dos convocados a depor, como revelou O GLOBO. Parlamentares independentes tinham manifestado resistência à ideia, mas a possibilidade de chamar o ministro da Economia para a comissão já tinha crescido após vir a público uma declaração polêmica dele sobre a China:

— O chinês inventou o vírus, e a vacina dele é menos efetiva do que a americana.

O ministro se retratou depois dizendo ter sido “infeliz” e destacando ter se vacinado com a CoronaVac, imunizante desenvolvido em parceria entre o Instituto Butantan e o laboratório chinês Sinovac.

Renan Calheiros disse ainda que a CPI não deve inverter a ordem dos depoimentos para que Wajngarten fale antes do ex-ministro Eduardo Pazuello — que teve o depoimento adiado para o dia 19 sob a justificativa de precisar fazer quarentena após contato com duas pessoas infectadas.

 

DEPOIMENTO PLANEJADO

Wajngarten saiu do governo após um desentendimento com assessores de Pazuello sobre a aquisição de vacinas. A percepção no Palácio do Planalto é que seria bom que Wajngarten falasse antes para que Pazuello se preparasse com base em sua versão da história, o que não deve ocorrer.

No caso de Torres, a intenção de convocar o ministro da Justiça deriva de uma entrevista à revista “Veja”, na qual ele pede “cuidado” com os rumos da CPI e manifesta intenção de pedir à Polícia Federal informações sobre todas as operações realizadas sobre desvio de recursos federais enviados a estados e municípios — em linha com a intenção do Palácio do Planalto de colocar governadores e prefeitos na mira da CPI.

Após o depoimento de Teich hoje, a comissão tem audiência marcada para a próxima quinta-feira para ouvir o atual ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, e o presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antonio Barra Torres.