Título: Aposentado dado como morto
Autor: Waleska Borges
Fonte: Jornal do Brasil, 10/03/2005, Rio, p. A9
Em Padre Miguel, depois de enfrentar uma fila gigantesca, na manhã de ontem, o aposentado José Francisco dos Santos, 85 anos, precisou dizer ao INSS que está vivo. O aposentado, que sobrevive com apenas R$ 260 de benefício, não recebeu o pagamento. Ele tinha ido ao posto para reclamar da interrupção no pagamento de seu benefício quando foi surpreendido pela notícia. A agência é a mesma onde o pedreiro Severino Elias dos Santos, 65 anos, morreu na porta, depois de ter aguardado 12 horas por atendimento. - Estou morto. O INSS me matou por causa de um erro no documento. Ainda pediram meu atestado de óbito - dizia o aposentado, ainda desorientado, quando saía da unidade, depois de esperar toda a manhã na fila.
Momentos depois, um pouco mais calmo, o aposentado explicou que tinha sido informado de que possivelmente estava sendo dado como morto pelos registros da previdência. Segundo José, a confusão teria ocorrido por um erro no documento.
- O engraçado é que recebo aposentadoria desde 1968, mas só hoje (ontem) descobriram que a minha data de nascimento está diferente na carteira de identidade e na certidão de casamento.
Ainda sem tomar café da manhã, às 10h20, o aposentado disse que chegou ao posto antes do amanhecer. Ele saiu de casa, em Bangu, por volta das 4h. A viagem até Padre Miguel foi feita numa Kombi. Viúvo, o aposentado conta que mora com dois dos seus seis filhos e gasta, por mês, cerca de R$ 40 com remédios.
- Como estou morto, acho que devem pensar que não preciso de comer. Não sei o que fazer - emocionou-se, enquanto era consolado por duas senhoras que se comoveram com a história.
Segundo a assessoria da Previdência Social, o benefício do aposentado foi suspenso pelo sistema de óbitos. Isso aconteceu porque os dados dos Sistemas Único de Benefícios e de Óbitos foram confrontados e foi constatada a comunicação de um óbito de uma pessoa com o mesmo nome, data de nascimento e município. Para voltar receber o benefício, José Francisco precisa apresentar documento de identidade, CPF e comprovante de residência.
Ontem, a viagem até o posto também foi uma decepção para o vigilante Luciano de freitas Domingues, 25 anos. Afastado do trabalho, desde que foi baleado no serviço, em 2001, ele também está sem receber por um erro no documento do benefício.
- O médico marcou a minha perícia para o dia 15 de fevereiro, mas o funcionário do posto errou e colocou a data referente ao mês de janeiro - protesta Luciano que chegou, por volta das 10h, e não conseguiu senha para ser atendido.
Pai de duas crianças, Luciano afirma que não tem dinheiro para gastar com passagens de sua casa, em Realengo, até o posto.
- São R$ 3 reais de passagem. Tenho que comprar leite para os meus filhos.