O Globo, n. 32050, 07/05/2021. Sociedade, p.13

 

 

 

Nova variante do coronavirus é identificada no Rio de Janeiro

 

 

Cepa foi batizada de P.1.2, por ser mutação da linhagem P1, descoberta em Manaus, segundo a Secretaria de Saúde do estado; até o momento não se sabe se ela é mais transmissível ou letal

 

A Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro identificou uma nova variante do coronavírus em circulação. Ela foi batizada de P.1.2, por ser mutação ocorrida na linhagem P1, descoberta em Manaus e que permanece prevalente no estado do Rio de Janeiro.

Ainda não se sabe se a nova variante pode ser mais transmissível ou mais letal. Ela apresenta sete novas mutações em comparação com a P.1, sendo uma delas a A262S, na proteína S, a parte do vírus que é alvo de anticorpos e da maioria das vacinas contra a Covid-19.

— Além das mutações que já existiam na P.1, tivemos uma a mais na proteína S, e outras mutações em outras proteínas que também podem ser importantes. Ainda não podemos dizer que a variante P.1.2 é mais isso ou aquilo. Já estamos fazendo estudos para avaliar, no entanto, os resultados demoram um pouco —explica Ana Tereza Vasconcelos, coordenadora do Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC).

Foram investigadas nessa etapa do estudo 376amostrasde57municípios,selecionadasa partir de genomas enviados ao Laboratório Central Noel Nutels (Lacen/RJ), entre os dias 24 de março e 16 de abril. A P.1.2 foi identificada em 5,85% das amostras.

Já a P.1 aparece em 91,49% delas. Também foram identificadas, porém em menores proporções,aslinhagensB.1.1.7(2,13%)eP.2(0,53%).

Segundo a secretaria, a nova variante foi encontrada principalmente na Região Norte do estado, mas também em amostras nas regiões Metropolitana, Centro e Baixada Litorânea.

— Sequenciamos semanas atrás oito desses genomas com a P.1.2 na Região Norte Fluminense, em Conceição de Macabu. Fizemos mais sequências nesta semana e vimos que ela tinha se dispersado para outras cidades. Ela (P.1.2) pode continuar aparecendo ou sumir. Por isso precisamos fazer o monitoramento genético —diz Vasconcelos.

Segundo a nota técnica da Rede Corona Ômica RJ—uma equipe multidisciplinar de pesquisadores de laboratórios de diferentes instituições do estado do Rio de Janeiro —, dos 22 novos genomas da linhagem P.1.2 analisados, “nove foram identificados no município de ConceiçãodeMacabu,trêsemSãoFranciscodoItabapoana, dois em Santa Maria Madalena e um genoma em cada um dos municípios de Areal, Bom Jardim, Macaé, Macuco, Quissamã, Rio das Ostras, Rio de Janeiro e Trajano de Moraes”.

“A partir deste resultado, o monitoramento segue aprofundando os efeitos que poderão ser apresentados,ouseja,ocomportamentoepidemiológico da variante”, explica, em nota, a subsecretária de Vigilância em Saúde da S.E.S. e idealizadora da pesquisa, Cláudia Mello.

A pesquisa integra uma iniciativa de sequenciamento do coronavírus que prevê análise de cerca de 4.800 amostras em seis meses, com aproximadamente 400 a cada 15 dias.

A ação é financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj), com parceria do Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC), Laboratório de Virologia Molecular da UFRJ, Lacen, Fiocruz e Secretaria Municipal de Saúde do Rio.

Vasconcelos chama a atenção para a queda da variante P.2 nas amostras analisadas. A cepa predominava até fevereiro no Rio. Na última análise, foi identificada em apenas 0,53% dos genomas. Já a P.1 foi encontrada em 91,49%.