Título: Alckmin sofre derrota política na Assembléia
Autor: Wallace Nunes
Fonte: Jornal do Brasil, 16/03/2005, País, p. A4

SÃO PAULO - A exemplo do que aconteceu com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o prefeito de São Paulo, José Serra (PSDB), que não emplacaram seus representantes na presidência dos legislativos, o governador Geraldo Alckmin (PSDB), sofreu ontem derrota política ao perder o comando da Assembléia Legislativa. Em uma das disputas mais acirradas dos últimos dez anos, Rodrigo Garcia (PFL) derrotou na tarde de ontem o candidato do PSDB, Edson Aparecido, por 48 votos a 46, na disputa pela presidência da Assembléia, pondo fim à hegemonia do PSDB na Casa, que durava 10 anos. Por tabela, foi a mais amarga derrota política do governador tucano Geraldo Alckmin, que desponta como candidato de seu partido para presidente da República.

O revés veio pela mão de seu aliado preferencial, o PFL, que tem o vice Claudio Lembro, e pode formar a chapa para o Planalto em 2006.

Garcia afirmou que sua vitória não pode ser confundida com um embate político entre as duas legendas.

- Se depender de mim, a relação com o governo vai ser como sempre foi. Tenho certeza de que os ânimos agora vão se acalmar, o processo eleitoral vai se enterrando e vamos voltar à vida normal - disse o candidato vencedor.

Segundo o novo presidente da Assembléia Legislativa, a vitória de ontem valoriza a sigla. Mas ele nega que isso possa prejudicar a aliança com o PSDB em 2006.

O processo eleitoral se configurou numa verdadeira batalha de bastidores, com direito a concentração de parlamentares simpatizantes de Garcia em um hotel na cidade de Atibaia, interior de São Paulo, para evitar a cooptação da base governista, que já aventava a possibilidade de derrota. Ontem, num telefonema a Edson Aparecido, o governador Alckmin procurava amenizar o impacto da derrota.

O deputado pefelista se lançou como candidato independente à presidência da Casa há duas semanas, após acordo com parlamentares do PT e legendas pequenas que se mostravam bastante descontentes com os rumos da Assembléia.

O governador Geraldo Alckmin (PSDB) manteve-se em silêncio após a derrota do PSDB na eleição da Assembléia. Nem ele, nem o chefe da Casa Civil, Arnaldo Madeira, responsável pelo diálogo com o Legislativo, se manifestaram sobre o resultado.

A tradição de os governos elegerem automaticamente os presidentes dos Legislativos desmoronou este ano. Tanto no caso da Câmara de São Paulo, Câmara dos Deputados e Assembléia Legislativa, os ganhadores disseram que eram aliados dos governos e não queriam transformar suas vitórias em derrotas daqueles que diziam apoiar. Nos três casos, também, a articulação dos parlamentares ditos fisiológicos foi alimentada pelo empenho do PT para derrotar o PSDB e vice-versa. O vereador tucano José Aníbal, preterido em janeiro como candidato à presidência da câmara paulistana, disse que esses movimentos desestabilizam as relações entre o Legislativo e o Executivo.