Título: Corrupção eleitoral tem altos índices
Autor: Hugo Marques
Fonte: Jornal do Brasil, 16/03/2005, País, p. A5

Corrupção eleitoral tem altos índices

Uma pesquisa do Ibope, que ouviu 2.002 eleitores em todo o país, mostrou que 9% dos entrevistados - que representam 10,8 milhões de brasileiros - receberam oferta de dinheiro ou de algum bem material em troca do voto nas eleições municipais do ano passado. Para 30% dos eleitores, os prefeitos que deixaram o cargo no ano passado roubaram em suas administrações. A pesquisa do Ibope foi encomendada pela Transparência Brasil e pela União Nacional dos Analistas e Técnicos de Finanças e Controle (Unacon). O Ibope ouviu eleitores de 143 municípios, durante o mês de fevereiro, em todas as regiões. Do total de entrevistados, 3% disseram ter recebido oferta de dinheiro em troca do voto e outros 6% afirmaram que as propostas eram de bens variados.

Em 2002, pesquisa semelhante registrou percentuais menores na eleição geral. Do total de entrevistados, 1% disse ter recebido oferta em dinheiro e outros 2% receberam ''bens e favores'', itens que somam juntos 3% do eleitorado. As perguntas feitas nos dois levantamentos, no entanto, não foram idênticas, o que não permite comparações precisas. Nas eleições municipais, segundo os pesquisadores, as ofertas são maiores devido à proximidade dos eleitores com os prefeitos.

O diretor-executivo da Transparência Brasil, Cláudio Weber Abramo, considerou ''muito preocupante'' o percentual dos que receberam ofertas de políticos. Abramo critica a falta de fiscalização e a ''omissão'' da Justiça Eleitoral para o fenômeno da compra de votos.

- A falta de fiscalização é um estímulo. A Justiça é muito deficiente e a compra de votos pode comprometer a legitimidade das eleições - diz Abramo.

A região mais afetada por ofertas de vantagens materiais em troca de votos é a Sul, seguida pelo Nordeste, o que surpreendeu os pesquisadores. Na região Sul, 12% dos eleitores receberam oferta de dinheiro ou bens em troca do voto. No Nordeste, o percentual é de 11%. No Norte e no Centro-Oeste é de 9% e no Sudeste cai para 5%.

O Ibope perguntou ao eleitor se o prefeito que deixou o cargo no ano passado se aproveitou da administração para roubar e se o eleito faria o mesmo. Para 30% dos entrevistados (projeção de 36,3 milhões de eleitores), os prefeitos que deixaram o cargo roubaram e, para 21% (25,4 milhões), os novos prefeitos vão roubar.

- A pesquisa aponta descrença da população nas instituições e no desempenho dos prefeitos - diz Abramo.

Os números mostram que grande parte desta descrença está associada com a corrupção nos municípios. Segundo a pesquisa, 2% dos entrevistados (projeção de 2,4 milhões de eleitores) disseram ter sido induzidos a pagar propinas para ter acesso a serviços municipais, como emissão de documentos e licenças, durante os quatro anos que se encerraram.

O pagamento de propinas reduz drasticamente o nível de confiança do cidadão nos políticos e nas instituições. Entre os eleitores que pagaram propinas durante o último mandato municipal, 82% consideram que a administração não foi boa e 62% dizem que o prefeito roubou. Essa experiência da propina também leva a uma avaliação pessimista quanto à honestidade dos novos prefeitos, já que 42% destes eleitores afirmam que estes também roubarão.