O Estado de São Paulo, n. 46511, 19/02/2021. Metrópole, p. A12

Brasil chega a 10 milhões de casos de covid-19
Paula Felix
19/02/2021



Foram oito meses para chegar a 5 milhões e metade para dobrar o total de infectados.


Às vésperas de completar um ano do primeiro caso de covid-19, o Brasil atingiu ontem a marca de 10 milhões de infectados pelo vírus – o número estava, ontem à noite, em 10.028.644 casos. A velocidade de propagação da doença seguiu a linha do crescimento anunciada pelos pesquisadores: foram oito meses para atingir 5 milhões de casos e quase metade desse tempo para que o número dobrasse.

Mesmo com a esperança da vacina, especialistas ouvidos pelo Estadão avaliam que o País ainda terá desafios antes de ver diminuírem os casos. O Brasil é o terceiro país a atingir a marca, atrás de EUA e Índia.

O primeiro milhão de infectados foi alcançado em junho do ano passado. As informações sobre a importância do uso de máscaras, distanciamento social e medidas de higiene, como lavar as mãos ou usar álcool em gel, já tinham sido amplamente divulgadas, mas o que se viu foi uma escalada de casos, que se refletiram em um número alto de mortes.

"Seria tudo diferente. Mas a gente vem, desde o começo, seguindo uma série de desobediências e isso acaba nos levando ao que estamos vivendo hoje. Quanto mais a gente vê pessoas falando que têm o direito de circular e não usar máscara, temos, em termos de biologia, a formação de novas mutações. Com essas variantes, a gente vai sendo pego por algo que não estava programado", avalia Benilton de Sá Carvalho, coordenador da frente de epidemiologia da Unicamp contra a covid-19.

Ele observa que, no ano passado, "quando se começou a fazer quarentena era pela possibilidade de achatar a curva e manter estabilidade genética no vírus para que ele não tivesse mudanças bruscas demais. As pessoas cansaram da pandemia, mas ela não se cansou da gente".

'Exponencial'. Carvalho diz que tentar estimar como a propagação da doença vai caminhar no Brasil não é tarefa impossível, mas desafiadora. "No nosso caso, é mais complicado (estimar) pela dificuldade de acesso à informação, seja de vigilância, como os dias de sintomas, seja pelas informações de testagem e vacinação, todas as variáveis são importantes para mensurar". E faz mais um alerta: "A briga pelo auxílio emergencial é outra questão. A ausência vai fazer com que as pessoas circulem mais, trazendo novas variantes".

Vacinação. Outro ponto preocupante, segundo ele, é a imunização da população, que tem sido feita com lentidão por causa da escassez de doses e da postura negacionista do governo com relação a eficácia do imunizante. Toda a política do Ministério da Saúde – sob orientação do presidente Jair Bolsonaro -foi calcada na defesa de remédios sem eficácia. O Exército produziu 3,2 milhões de comprimidos de cloroquina e o governo ainda recebeu 3 milhões de comprimidos de hidroxicloroquina dos EUA. Os testes de covid, essenciais para o controle do vírus, também foram desprezados pelo governo – há cinco milhões de exames encalhados.

"Por causa da baixa velocidade da vacinação, a gente não deve ver esses efeitos tão cedo ou tão rápido quanto Israel. Temos cerca de 3% das pessoas vacinadas no Brasil", alerta. E lembra que "até o 2º semestre, vamos passar pelo inverno". O total de casos respiratórios, não só covid, aumenta em maio ou junho por padrão".

Em Israel, mais de 40% dos 9 milhões de habitantes já receberam a vacina. Quase dois meses após o início da campanha, os resultados já aparecem e, ante janeiro, a queda de pacientes em estado grave é de 38%. Nos Estados Unidos, após grande subida, o total de novos casos teve queda de 39% nas duas últimas semanas, puxada pela vacinação. A Índia também tem apresentado tendência decrescente de contágio.

No Brasil, "a vacinação está lenta porque a demanda é alta e não temos doses suficientes. A gente recebeu oferta de 70 milhões de doses da Pfizer, que foi deixada passar", diz Carvalho.

PARA ENTENDER

Quase 1 ano de pandemia

25 de fevereiro

Primeiro caso

Paciente que retornou da Itália tem diagnóstico confirmado.

16 de março

Primeira morte

Homem de 62 anos é a primeira vítima da doença.

7 de outubro

5 milhões de casos

Marca é atingida com média de registros em queda.

7 de janeiro

200 mil mortes

Ano começa com nova alta de casos e mortes.