Título: Falta de postos de saúde agrava crise nos hospitais
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Fonte: Jornal do Brasil, 16/03/2005, Rio, p. A13

Atendimento deficiente provoca sobrecarga nas emergências. Cooperativas cobram pagamento

Foto de Leonardo Rozário Multidão: falta de atendimento ambulatorial nos postos cria filas enormes nos grandes hospitais

Enquanto o Ministério da Saúde busca saídas para a crise nos seis hospitais sob intervenção, os problemas nos 102 postos de saúde da prefeitura se arrastam e ajudam a sobrecarregar as emergências de todo o município. Com salários atrasados desde novembro, cerca de 400 profissionais de saúde cooperativados resolveram cruzar os braços. A denúncia é do presidente do Conselho Distrital de Saúde da Zona Oeste, Adelson Alípio, que montará um dossiê sobre a situação dos postos. As autoridades do setor reconhecem que a rede básica - como são classificados os postos de saúde e os PAMs (Postos de Atendimento Médico) deve ser reorganizada urgentemente. Segundo Alípio, dos funcionários afastados, estima-se que 280 são de unidades da Zona Oeste. Nos postos das região, além da falta de equipamentos, não há atendimento de pré-natal, saúde bucal e acompanhamento de pacientes com diabetes e hipertensão.

Com a crise nos postos, quem não precisava ir a hospitais acaba entrando nas filas e complicando o já deficiente sistema de atendimento ambulatorial e de emergência. De acordo com Alípio, um posto de pequeno porte poderia atender a 300 pessoas por dia. Já uma unidade de médio porte, que funciona entre 7h e 18 h, teria a capacidade de atender mil pessoas, diariamente. Na área do Hospital Albert Schweitzer, em Realengo, há nove postos para uma população de 900 mil pessoas. Nas unidades, apenas dois aparelhos de raios-X estão funcionando.

Para Alípio, o principal problema das unidades é a falta de recursos humanos.

- O prefeito deixou de usar os concursados para, comodamente, trabalhar com as cooperativas. Os funcionários cooperativados trabalham um mês, ficam sem receber no outro e acabam pedindo para sair - lamentou Alípio.

A presidente do Conselho Regional de Medicina do Rio (Cremerj), Márcia Rosa de Araújo, lembra que as cooperativas foram contratadas em caráter emergencial, mas já prestam serviço para o município há mais de seis anos.

- A prefeitura impede que haja fixação do corpo clínico nas unidades, além de prejudicar os médicos sacrifica o atendimento aos pacientes - avaliou Márcia Rosa.

Segundo Alípio, na Zona Oeste, os pacientes já não estão sendo atendidos por ginecologistas, cardiologistas, pediatras e clínicos.

- Sem médicos, o atendimento é feito por auxiliares de enfermagem e enfermeiros. Por causa desta situação, muitas pessoas já nem procuram os postos porque sabem que vão conseguir, no máximo, um curativo - conta Alípio.

O deputado estadual Paulo Pinheiro, presidente da Comissão de Saúde da Alerj, lembra que nos postos de saúde o número de distribuição de senhas para atendimento é restrito.

- A situação dos postos é gravíssima. Se prefeitura não pode tomar conta destas unidades que sejam transferidas para outro gestor - sugeriu o deputado.

Para o presidente do Sindicato dos Médicos do Rio de Janeiro, Jorge Darze, a intervenção federal também deveria atuar na reorganização da rede básica.

- Não é possível reconstruir a rede de saúde resolvendo apenas parte do problema. A rede básica é a porta de entrada do sistema de emergência - diz Darze.

A prefeitura informou que tem 1800 cooperativados e negou afastamento de funcionários por falta de pagamento.

- Há um problema com uma cooperativa na justiça. As demais não - declarou o prefeito Cesar Maia.

De acordo com a Cooperar Saúde, que presta serviço em 30 unidades da prefeitura, ontem, o município liquidou os atrasados do mês de janeiro com o Hospital Lourenço Jorge. Os meses de janeiro e fevereiro também foram pagos para o Hospital Lincoln de Freitas.