Título: Auditores acham remédios vencidos
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 16/03/2005, Rio, p. A14

Carga encontrada no Cardoso Fontes tinha até medicamentos para Aids; Ministério vai contratar funcionários em caráter emergencial

Rafael Andrade As caixas estavam num depósito do hospital e continham analgésicos e lentes intra-oculares

Auditores do Ministério da Saúde encontraram, na manhã de ontem, grande quantidade de medicamentos e insumos com prazo de validade vencido, numa sala no Hospital Municipal Cardoso Fontes. A unidade, uma das seis que sofreram a intervenção do ministério na última quinta-feira, abrigava até mesmo remédios usados no tratamento de pacientes portadores do vírus da Aids. - É um desperdício de dinheiro e uma violência à saúde pública. A crise de abatecimento na rede não justifica a perda deste material. Eles não tiveram nem o cuidado de consultar os outros hospitais para saber se podiam enviar este material - criticou o presidente do Sindicato dos Médicos (SinMed), Jorge Darze.

Os medicamentos estavam armazenados em caixas numa sala nos fundos do Cardoso Fontes. Segundo Darze, desde ontem a comissão interventora faz uma auditoria no material para saber a quantidde de remédios encontrada. Além de medicamentos para tratamento da Aids, havia remédios para cardiopatias, analgésicos, insumos básicos e lentes intra-oculares, usadas em cirurgias oftalmológicas. O SinMed vai pedir para que o Ministério Público apure o caso e responsabilize os responsáveis pelo vencimento dos remédios.

Cinco dias após decretar o estado de calamidade pública na saúde do Rio, o Ministério da Saúde divulgou ontem novas medidas para o município. Depois de se reunir com prefeitos da Região Metropolitana, o ministro Humberto Costa informou que vai contratar funcionários, em caráter emergencial, para suprir o déficit de pessoal na rede hospitalar. Costa não soube dizer quantos profissionais são necessários, mas adiantou que vai contratar funcionários de cooperativas que atendem à rede e profissionais concursados que ainda não foram convocados pelo governo do estado.

O ministério também deu prazo de 24 horas para que a Prefeitura do Rio devolva as 17 ambulâncias do Serviço de Atendimento Móvel de Urgências (Samu). O governo federal estuda, com a Secretaria Estadual de Saúde, a implantação do Samu na Região Metropolitana.

- Se a prefetura não devolver as ambulâncias, vamos entrar com uma ação de busca e apreensão. Também pedimos para que São Paulo envie os outros 57 veículos, que devem chegar até o fim de semana - declarou Costa.

Uma central de regulação, que funcionaria no próprio prédio do Ministério da Saúde, na Rua México, seria acionada pelo 192 e concentraria os atendimentos do Corpo de Bombeiros e do programa Emergência em Casa, do governo estadual. Coordenadores de 10 cidades vão capacitar a mão-de-obra para atuar no Samu do Rio. A previsão é de que o serviço comece a funcionar em 20 dias.

O ministro Humberto Costa também assinou uma portaria ontem destinando mais de R$ 6 milhões para a Secretaria Estadual de Saúde com o objetivo de realizar cirurgias eletivas no município do Rio. Segundo levantamento do Ministério Público estadual, mais de 14 mil pacientes aguardam na fila para serem operadas. De acordo com Costa, será aberto um edital para a contratação de hospitais públicos e particulares.

- Esta medida terá impacto nos serviços de emergências dos hospitais, já que são casos que estão há meses sob espera - acrescentou Arthur Chioro, diretor do Departamento de Atenção Especializada do Ministério da Saúde.

Gestor dos seis hospitais sob intervenção federal, Sérgio Côrtes disse ainda que vai aumentar a oferta de hemodiálise para mais 20 pacientes no município do Rio.