Título: Comércio ignora alta do juro
Autor: Rafael Rosas
Fonte: Jornal do Brasil, 16/03/2005, Economia & Negócios, p. A17
Apesar do aperto do BC, vendas crescem 6,24%
Apesar de todas as tentativas da equipe econômica para manter o consumo sob controle, com as sucessivas altas nas taxas básicas de juros a partir de setembro, o Comitê de Política Monetária do Banco Central ainda não conseguiu domar o varejo. Ontem, o IBGE divulgou que as vendas do comércio cresceram 6,24% em janeiro deste ano, na comparação com igual mês de 2004.
Entre os setores pesquisados pelo IBGE, as vendas que mais cresceram em relação a janeiro do ano passado foram as de Móveis e Eletrodomésticos, 19,59%, enquanto Hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo subiram 6,33% e Tecidos, vestuário e calçados avançaram 4,15%. A queda que mais pesou no índice de janeiro foi de Combustíveis e lubrificantes (1,07%), causada principalmente pelo aumento de preços no final do ano passado.
Segundo o economista do IBGE Reinaldo Silva Pereira a estabilidade na economia, observada em 2004, permitiu que as famílias planejassem melhor as compras e puxassem o resultado do comércio no primeiro mês do ano.
- O crédito consignado (com desconto em folha) teve grande importância no desempenho do comércio nos últimos meses - explica Pereira, justificando o crescimento nas vendas de móveis e eletrodomésticos, setor com compras geralmente feitas a prazo.
Para o economista Alex Agostini, da GRC Visão, o efeito do aperto monetário não acontece mais com a mesma rapidez que acontecia no passado. O Copom encerra hoje a reunião de março, que decidirá o novo patamar para os juros básicos, atualmente em 18,75% ao ano. Para Agostini, a expansão do crédito, o avanço do emprego e da renda das famílias e o crescimento da economia global - que mantém as exportações brasileiras com ritmo forte - empurram para frente o efeito da Selic sobre a atividade econômica.
- O resultado de fevereiro deve ser positivo também. Talvez, só vejamos a eficiência da política monetária nos números de março - cogita Agostini.
Para o economista Carlos Thadeu de Freitas Filho, do Grupo de Conjuntura da UFRJ, a expansão do crédito, principalmente com a criação do crédito consignado, permitiu um consumo mais vigoroso no setor de bens duráveis (móveis e eletrodomésticos).
Segundo a comparação feita com os resultados dessazonalizados de dezembro e janeiro feitos por Freitas Filho, o setor de bens duráveis já começa a desacelerar, embora ainda sobre uma base muito alta de comparação.
- O resultado dos duráveis é excelente por causa da base do ano passado. Os não-duráveis (alimentos) ainda estão mais modestos, mas acredito que vão manter a recuperação. Foi o último setor a subir, mas será o último a se acomodar - diz.