Correio Braziliense, n. 21168, 09/05/2021. Política, p. 4

 

Renan apontará culpados

Sarah Teófilo

09/05/2021

 

 

Relator da CPI da Covid assegura que, se as investigações do colegiado confirmarem culpas e omissões pela disseminação da doença pelo país, não se furtará de apresentar seus nomes. Mesmo que entre eles esteja o do presidente Jair Bolsonaro

O senador Renan Calheiros (MDB-AL), relator da CPI da Covid, afirmou ontem que, se a comissão de inquérito provar alguma responsabilidade do presidente Jair Bolsonaro no agravamento das mortes pela infecção do novo coronavírus no Brasil, ele será responsabilizado. Até ontem, haviam sido registrados 421 mil óbitos pela doença no país.

"Eu espero que o presidente da República não tenha responsabilidade com o agravamento do morticínio do Brasil. Eu espero que a CPI não chegue a tanto. Mas, se a CPI chegar, não tenho nenhuma dúvida de que ele será responsabilizado, sim", afirmou em transmissão ao vivo da Rede TVT e do grupo Prerrogativas. Governistas tentaram barrar judicialmente a indicação de Renan para a relatoria da Comissão, mas não conseguiram. Analistas políticos afirmaram que o governo deu um passo equivocado ao tentar vetá-lo, queimando pontes com quem deveria buscar boa relação.

Apesar de afirmar que não torce para incriminar ninguém, o senador criticou o papel do governo no colegiado. Conforme disse, "se o governo usasse melhor as suas energias para esclarecer os fatos, diferentemente do que está fazendo, facilitaria o trabalho da CPI". Renan também afirmou que é preciso levar em consideração a maneira como o governo desprezou a pandemia. "E como o governo minimizou o papel da vacina, que é o único instrumento que pode resolver o problema, e fechou as portas para os produtores", disse, citando a Pfizer, mas frisando que não foi só com esse laboratório.

"Fechou a porta para todos, porque o presidente disse várias vezes que não acreditava na vacina, muito menos na chinesa (CoronaVac), e quem ousasse tomá-la viraria jacaré. Não dá para comparar, por tudo isso, a circunstância do Brasil com a de qualquer outro país. Em nenhum outro lugar um chefe de Estado ou de governo esteve publicamente falando esses absurdos para os seus governados, para sua população", frisou.

O governo federal recebeu ofertas para comprar 70 milhões de doses da vacina da Pfizer, sendo que a primeira proposta foi apresentada em agosto do ano passado. O Ministério da Saúde resistia por não aceitar uma das cláusulas que isentava o laboratório caso alguém que tivesse tomado uma dose apresentasse efeitos colaterais. A empresa, porém, afirmou que os itens apresentados estavam em linha com os acordos fechados em outros países. A situação só foi resolvida depois que o Congresso interveio e aprovou uma lei que autoriza União, estados e municípios a comprarem vacinas contra covid-19 e assumirem os riscos de possíveis efeitos adversos.

Apoio
Para o senador, as afirmações do presidente questionado a eficiência das vacinas são "de uma irresponsabilidade absoluta", e é preciso investigar. Para isso, pediu também o apoio da sociedade para aprofundar as apurações, frisando que o governo não queria a criação da CPI, que seria em fevereiro, mas foi "arrastada" para abril depois de determinação do Supremo Tribunal Federal (STF).

Renan aproveitou para elogiar as Forças Armadas, dizendo que não é intenção da CPI investigá-las. "Não queremos investigar os militares. Esse não é o nosso papel. Eles não têm que ter nenhum receio. Quem tem que ter receio são os aliados do vírus, que vão ter que responder por tudo", garantiu.

O ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello deveria ter ido depor na última terça-feira, mas adiou o depoimento para o dia 19, alegando que teve contato com pessoas que testaram positivo para a covid-19. Para Renan, o general está "criando uma crise nas Forças Armadas muito grande". "Ele tem usado o fato de ser da ativa para ter o Exército, que é uma instituição respeitável, como biombo para que não vá depor na CPI", acusou.