Correio Braziliense, n. 21168, 09/05/2021. Cidades, p. 13

 

Esperança para todos os brasilienses

Samara Schwingel

Ricardo Dahen

Edis Henrique Peres

09/05/2021

 

 

Pessoas começam a fazer planos de vida a partir do momento em que forem imunizadas contra o coronavírus. Ao receber alguma das duas doses determinadas, ainda tem gente que emociona no momento da aplicação. Saiba onde são os pontos de vacinação

Mais de 510 mil pessoas se vacinaram contra a covid-19 no Distrito Federal, desde o início da campanha. Apenas ontem, nos 17 pontos de imunização que atendiam a população, 8.540 receberam a aplicação da primeira dose e 278, da segunda, de acordo com os dados da Secretaria de Saúde. Hoje, quatro pontos estarão abertos para vacinar as pessoas com comorbidades e profissionais de saúde agendados, os idosos com mais de 60 anos e as pessoas que precisam receber o reforço da vacina. Ontem, o DF recebeu mais 14,4 mil doses da CoronaVac, sendo que 7,2 mil serão utilizadas como D1 e o restante, como D2.

Apesar de ocorrer há mais de quatro meses, a campanha de vacinação contra o coronavírus continua emocionando quem é inserido no público-alvo. A servidora pública Raquel Machado, 51 anos, conseguiu agendar a aplicação da primeira dose da vacina para ontem no drive-thru do Shopping Iguatemi. Moradora da Asa Norte, ela é portadora de comorbidade e emocionou-se ao ser vacinada. "Sou imunossuprimida, tenho uma doença crônica. É muita emoção, é um momento muito especial, me sinto honrada de poder estar aqui", disse.

Raquel não chegou a ser infectada com a doença, mas conta que perdeu amigos. "Perdi um amigo que trabalhava como enfermeiro na linha de frente no Rio de Janeiro. É muito triste saber que muitas mortes poderiam ter sido evitadas", considera. Ela foi vacinada com a AstraZeneca/Oxford e defendeu que todos devem buscar a imunização, independentemente do fabricante das vacinas. "Temos que nos vacinar e aproveitar o SUS (Sistema Único de Saúde). Temos vacinas de graça. Viva o SUS", completou. Após a segunda dose, Raquel quer voltar a trabalhar de maneira presencial.

Sonhos

Mirsa Steffens, 58, saiu da casa onde mora na Asa Norte e foi de bicicleta até o drive-thru do Estacionamento 13 do Parque da Cidade para se vacinar. Ela conta que chegou a pegar covid-19 no ano passado, mas, felizmente, não precisou ser internada. "Fiquei 14 dias na cama com sintomas, no entanto, não tive que ser entubada nem nada disso", lembrou. Após ser imunizada, Mirsa afirmou que pretende pedalar pelo Caminho de Cora Coralina, uma trilha de 300 km de extensão situada em Goiás. "É um sonho e, depois, quero me preparar para o Caminho de Santiago de Compostela", disse, animada.

Outra pessoa que faz planos para depois que for imunizada contra o coronavírus é Sabrina Wirley, 37. A educadora física foi vacinada por fazer parte do grupo de profissionais de saúde da rede privada e agendou a aplicação da dose para o drive-thru do Estádio Mané Garrincha. Ela chegou a contrair covid-19 em dezembro do ano passado. "A expectativa é de que tudo melhore, que dê tudo certo no final", disse. Para ela, os planos são simples. "Quero sair, viajar, voltar a viver, sem culpa", completou.

Números

Enquanto a vacinação avança, o DF registra, nas últimas 24 horas, 912 novos casos e 31 mortes pela doença, sendo que 28 ocorreram ontem. Segundo o último boletim epidemiológico, 385.763 pessoas se infectaram com o coronavírus desde o início da pandemia e 8.087 morreram por complicações da doença. Ontem, a taxa de transmissão estava em 0,87, ou seja, 100 pessoas infectadas transmitem o vírus para mais 98. O ideal para considerar que a pandemia não está avançando é que este índice esteja abaixo de 1.

Com as atualizações, a média móvel de casos chegou em 742,9. O diretor científico da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) do DF, José David Urbaez, alerta que a capital do país passa por um momento de enorme transmissão viral. "A flexibilização das atividades está sendo feita em níveis mais elevados do que no último pico do ano passado e isso perpetua os altíssimos níveis de casos e óbito da doença. Por isso, a vacinação é essencial, mas, nesse aspecto, é pouco o que o governo local pode fazer, pois depende da distribuição de doses enviadas pelo Governo Federal".

O especialista destaca que o aparato de vacinação no DF funciona, mas falta maior incentivo e uma melhor campanha educativa em relação à vacina. O cenário que se desenha, na avaliação de Urbaez, é pior do que o vivenciado no primeiro ano de pandemia, em 2020. "O nível de transmissão deste ano está maior, com exceção dos municípios que fizeram algum lockdown. A questão é que não tivemos medidas potentes de controle da pandemia, programas de testagem massiva ou questão do uso de medicina familiar e atenção primária. O que se faz não é o controle da pandemia, apenas aumentamos os leitos. Mas uma crise sanitária não se resolve apenas desse jeito e sim suprimindo a transmissão da doença. E claro, estamos longe de vencer essa pandemia. Pelo menos até 2022 ainda conviveremos com o vírus no país", finaliza.