O Globo, n. 32054, 11/05/2021. País, p.6

 

 

Aras rejeita investigar Bolsonaro por cheques na conta de Michelle

 

Os depósitos foram feitos por Queiroz, investigado com Flavio no caso dos 'crackers'. O presidente já disse que o dinheiro era para ele, para o pagamento de um empréstimo

 

AGUIRRE TALENTO

atalento@edglobo.com.br

BRASILIA


O procurador-geral da República, Augusto Aras, rejeitou o pedido feito ao Supremo Tribunal Federal (STF) para abrir inquérito contra o presidente Jair Bolsonaro por conta dos cheques depositados pelo ex-assessor Fabrício Queiroz para a primeira-dama Michelle Bolsonaro. Um advogado entrou com pedido no STF para instaurar inquérito por crime de peculato, desvio de recursos públicos, com base nos relatórios publicados na época sobre os repasses.

A manifestação foi encaminhada ao ministro Marco Aurélio Mello, relator do pedido no STF. Agora cabe ao ministro decidir se aceita o pedido do PGR. A norma, no caso dos autos de Inquérito, é que o STF mantenha a posição da PGR, uma vez que é o órgão responsável por apurar autoridades com foro privilegiado.

Aras argumentou que o Ministério Público do Rio já apresentou queixa contra o senador Flávio Bolsonaro (Republicano-RJ) sobre o assunto, mas não encaminhou à PGR nenhuma prova de crime envolvendo Jair Bolsonaro. veiculada na imprensa não é elemento suficiente para abrir investigação.

"É notório que as supostas relações espúrias entre o senador Flávio Bolsonaro e Fabrício Queiroz, seu ex-assessor na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, foram objeto de denúncia, em primeira instância, em prejuízo de ambos e supostamente envolvidos em crimes relacionados. Não há notícias, porém, de que tenham surgido, durante a investigação que antecedeu a ação penal em curso, indícios da Comissão de Infracções por parte do Presidente da República ", escreveu.

A quebra de sigilo bancário de Queiroz, ex-assessor do hoje senador Flávio na época em que era deputado estadual no Rio, mostra que a primeira-dama recebeu R 7 72 mil em sua conta em cheques depositados pelo ex-funcionário entre 2011 e 2016. Em dezembro 2018, relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), referente aos anos de 2016 e 2017, revelou o representante R 2 24 mil de Queiroz à Michelle. Na ocasião, o presidente afirmou que o valor total seria na verdade R 4 40 mil, e justificou que se tratasse do pagamento de um empréstimo.