Título: Amizade colorida
Autor: Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Jornal do Brasil, 17/03/2005, País, p. A2

Parlamentares evangélicos bem que tentaram demover o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), da intenção de abrir as portas do gabinete para mais de 50 representantes de movimentos homossexuais. Mas os visitantes estavam determinados e, enquanto esperavam pelo chefe da Casa, que se atrasou em cerca de meia hora, deixavam claro que não arredariam o pé de lá até o encontro: ''Ô Severino, cadê você?, eu vim aqui só para te ver'', gritavam em coro.

Foi assim até cumprirem a missão de pedir ao deputado - católico fervoroso e avesso ao casamento gay - apoio à votação de dois projetos: o que autoriza a união civil e o que torna crime o preconceito contra homossexuais.

- Não concordo, mas agirei como magistrado, como juiz. Levarei para os líderes e, se aprovarem, colocarei em votação - garantiu Severino, em tom amigável.

Ele voltou a dizer que, quando o assunto for votado, poderá ''deixar a majestade de seu cargo'', descer ao plenário e falar contra a matéria. Mas arrancou aplausos esfuziantes:

- O Legislativo não é do Severino, é do Brasil. Queremos ver um Brasil democrático e só teremos democracia quando todos os níveis puderem participar dela - disse.

Enquanto era esperado, Severino foi tema de brincadeiras.

- Quando ele passar aqui, vou dar um beijo nele - afirmou a transexual Andréa Estefânia.

- Ah não, ele parece um sapo - respondeu a amiga, Cris Stephany.

- Mas sapos podem virar príncipes - tentou Andréia.

- Esse não, vai morrer sapo - emendou Cris.

Cláudio Nascimento, da Associação Brasileira de Gays, Lésbicas e Transgêneros, estima que um homossexual seja morto a cada dois dias no Brasil. O argumento não sensibilizou o Pastor Frankenberger (PTB-RR), que diz ter sido eleito para defender os interesses da família. Para ele, o casamento gay é uma anomalia. Ele também é contra tornar crime o preconceito contra homossexuais:

- Imagine: nós vemos um homem vestido de mulher na rua, fazemos uma piada, e ele vai conseguir outros gays como testemunhas contra nós.