Título: Severino garante mais dinheiro nos gabinetes
Autor: Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Jornal do Brasil, 17/03/2005, País, p. A2

Mesa da Câmara aprovou aumento de 25% na verba para funcionários

Duas semanas depois da derrota no debate sobre o reajuste do salário dos parlamentares, a Mesa Diretora da Câmara aprovou, por unanimidade, um aumento de 25% na verba de gabinete, que passará de R$ 35.350,00 para R$ 44.187,50. A medida entra em vigor a partir de sua publicação no Diário Oficial, o que deve acontecer hoje.

A novidade trará um gasto extra para os cofres da Casa de R$ 58,93 milhões por ano. Essa quantia poderá aumentar ainda mais, quando o Senado aprovar um projeto reajustando em 15% os salários dos servidores do Legislativo e do Judiciário. Com isso, as verbas de gabinete saltariam para R$ 50.815,62.

Como a decisão da Mesa Diretora - confirmando uma proposta feita pela gestão anterior, do deputado João Paulo Cunha (PT-SP) - não cria novos cargos para suprir as demandas dos gabinetes, a proposta não precisa ser votada em plenário.

Há 15 dias, quando surgiu a idéia de elevar o salário dos deputados federais dos atuais R$ 12.870 para R$ 21.500, o reajuste da verba de gabinete também foi proposto. Naquele caso, contudo, aumentava-se de 20 para 25 o número de funcionários por gabinete. Por isso, os dois projetos deveriam ser chancelados pelo voto dos deputados.

Apenas um parlamentar, suplente, não compareceu à reunião da Mesa, realizada na manhã de ontem na residência oficial do presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE). Nenhum deputado colocou qualquer objeção à proposta.

- Não vejo como algo incorreto. É uma maneira de melhorar a atividade parlamentar. Os deputados poderão contratar assessores com nível técnico melhor - justificou o primeiro-vice-presidente da Câmara, José Thomaz Nonô (PFL-AL).

Apesar de ser uma decisão que não passa pelo crivo do conjunto dos deputados, o reajuste da verba de gabinete não foi bem recebido por alguns parlamentares. Um integrante da bancada governista lembra a imagem de ''sindicatão'' que a Câmara está passando para a sociedade. Esse mesmo deputado acrescenta que poucos estão avaliando o estrago que este momento poderá provocar em 2006, quando os eleitores depositarem seus votos nas urnas.

Para o deputado Chico Alencar (PT-RJ), o reajuste das verbas de gabinete devia ser precedido de um debate sério e moralizador, para evitar que esses recursos excedentes, destinados aos salários dos parlamentares, aterrissassem nos bolsos dos deputados.

- Existem várias brechas para isso - emprego indireto de familiares, acordos entre deputados, criação de ''laranjas''. Esse reajuste soa como uma compensação pelo congelamento dos nossos salários - lamentou Alencar.