Título: Reforma: anúncio oficial fica para depois
Autor: Sérgio Pardellas e Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Jornal do Brasil, 17/03/2005, País, p. A3

Sem conseguir fechar acordo com o PP de Severino, Lula pensa em adiar mudanças na Esplanada para semana que vem

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, até o início da noite de ontem, estava propenso a adiar o anúncio oficial da segunda reforma ministerial do governo para a próxima semana. A novela tende a se arrastar pelo menos até segunda-feira. Motivo: o cenário, que parecia ganhar contornos definidos, foi embaçado pelo impasse nas negociações entre governo e as lideranças do PP. Na noite de terça-feira, o presidente conversou com o ministro da Previdência, Amir Lando, que dará o lugar ao senador Romero Jucá. Foi o primeiro integrante do governo a ser avisado que terá que ceder o lugar. O nó poderia ser desatado em encontro na noite de ontem entre Lula e o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE). Mas ao desembarcar do Rio Grande do Sul, onde visitou municípios atingidos pela seca, Lula encerrou o expediente e seguiu para a Granja do Torto. Até às 21 horas não havia nenhum encontro previsto. Amanhã, até segunda ordem, Lula cumpre compromisso oficial em Aracaju (SE).

O PP havia indicado o deputado Ciro Nogueira (PP-PI) para o ministério das Comunicações ou Integração Nacional. Mas o líder do partido na Câmara, deputado José Janene (PP-PR), foi informado pelo chefe da Casa Civil, ministro José Dirceu (PT-SP), da impossibilidade do governo acomodar o PP em uma das duas pastas. Conforme apurou o Jornal do Brasil, os dois ministérios acalentados pelos progressistas já estariam reservados ao PMDB numa negociação praticamente sacramentada envolvendo o governo e os líderes do partido no Senado e Câmara. Pelo acordo, a senadora Roseana Sarney (MA) ficaria com a Integração Nacional e Eunício Oliveira (CE) permaneceria nas Comunicações, segundo informações de uma graduada fonte da Casa Civil. De acordo com a mesma fonte, para contemplar o PP, a saída seria desalojar outro petista de um ministério.

- Está tudo nas mãos de Severino e o presidente do Congresso, Renan Calheiros - resignou-se ontem Ciro Nogueira.

Malograda a operação montada para assegurar ao PP as Comunicações ou Integração Nacional, Janene passou ontem mesmo a trabalhar junto a bancada do seu partido no Congresso no sentido de inviabilizar o que o parlamentar classificou de ''compensação''.

Até o início da noite de ontem, além da ida de Roseana para a Integração e a permanência de Eunício nas Comunicações, apenas outras duas alterações eram dadas como certas no Planalto. O remanejamento do ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes (PPS), para a Saúde, no lugar de Humberto Costa, e a ida do senador Romero Jucá (PMDB-RR) para a Previdência Social, na vaga de Amir Lando. Cacifado com a intervenção na Saúde do Rio, Huberto Costa poderia continuar no governo sendo deslocado para o ministério do Desenvolvimento Agrário.

Tido como fora da Esplanada, Lando negou por intermédio de sua assessoria que tivesse sido avisado de sua demissão em reunião anteontem à noite com o presidente Lula, conforme publicou ontem o Jornal do Brasil. ''O encontro foi de trabalho'', diz a nota encaminhada pela assessoria do ministério.

Mas de acordo com ministros do núcleo político do governo, Lula avisou ao senador peemedebista que precisaria de seu cargo para acomodar as forças políticas no Congresso. Não por acaso, Lando deixou o Planalto contrariado, dispensando até o carro oficial.

O desmentido de Lando, inclusive, provocou um mal-estar no Planalto. Na avaliação de auxiliares diretos de Lula, a atribuição de um eventual desmentido deveria ser da assessoria da Presidência da República, o que não ocorreu.

- Quem demite ou não é o presidente. Com a nota, o ministro Lando passou recibo - avaliou um influente assessor palaciano.

A Coordenação Política também deve ficar mesmo com o ex-presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP). A possibilidade de Roseana vir a assumir o posto, ventilada desde a última sexta, foi praticamente descartada ontem pelo ministro José Dirceu. Com João Paulo na coordenação política, crescem as chances de o líder do PT na Câmara, Arlindo Chinaglia, ser alçado a líder do governo na Casa. Com o aval de Dirceu e do presidente do PT, José Genoino.