Título: Valores americanos acima de tudo
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Fonte: Jornal do Brasil, 17/03/2005, Internacional, p. A7

Paul Wolfowitz é um dos nomes que está em todas as listas dos ''neoconservadores'' de Washington, um grupo que gira em torno do presidente George Bush e defende a idéia de que o poder econômico e militar dos Estados Unidos deve ser usado para disseminar a democracia e os valores americanos pelo mundo.

Wolfowitz defendeu a invasão do Iraque logo após os ataques de 11 de Setembro, argumentando que Saddam Hussein possuía armas de destruição em massa - o que mais tarde foi desmentido, inclusive por observadores americanos -, mas também alegando que a falta de democracia é a principal razão do Oriente Médio ter se tornado uma região ''berço do terrorismo''.

Se durante a preparação da guerra, o subsecretário de Defesa já se tornaria um político polêmico, depois não foi diferente. No fim de 2003, ele assinou um memorando que baniu a possibilidade de contratos para a reconstrução do Iraque, negociados pelo Pentágono, serem fechados com países que foram contrários a guerra, como a França, a Rússia e a Alemanha.

Além disso, as previsões feitas por Wolfowitz de quanto custaria o conflito e quantos soldados seriam necessários no Iraque foram motivo de chacota nos EUA, quando comparadas à realidade após a queda de Saddam Hussein. Da mesma forma, o subsecretário afirmou que a população iraquiana iria abraçar as tropas americanas como ''libertadores'' e não ''ocupadores''. Uma idéia que foi taxada como ''lunática'' pelo então secretário de Estado Colin Powell, como foi noticiado pela mídia em Washington.

''Wolfovitz certamente tem demonstrado que pode viver como uma pessoa polêmica'', escreveu imediatamente à nomeação, a revista britânica The Economist.

Segundo a publicação, o desejo do subsecretário de Defesa de pressionar pela democracia pode ser problemático para os verdadeiros objetivos do banco, dado que uma possível relação de causa e conseqüência entre a democracia e o bem-estar econômico não é comprovada.

Pelo contrário, boa parte dos estudos contemporâneos sobre o tema afirmam que a democracia é uma escolha política, e que há um preço a ser pago por isso.

''O sucesso mais retumbante de redução da pobreza nas últimas décadas é, na verdade, o da China'', escreveu a revista The Economist.

O atual presidente do Bird, James Wolfensohn, sempre deixou claro que gostaria de permanecer no cargo, mas não recebeu o apoio da Casa Branca. Ele foi escolhido por Bill Clinton e ficou 10 anos no cargo.

Em uma visita recente à Bélgica, Wolfensohn afirmou que o presidente do Banco Mundial deve se preocupar em combater a pobreza e não em ser apenas um ''gerente eficiente''. Ele não quis comentar a indicação de Paul Wolfowitz.

Além das responsabilidades operacionais, o presidente do Banco Mundial tem um papel fundamental na representação das pessoas mais pobres do mundo. Com pressões políticas e discursos, o presidente é capaz de chamar a atenção dos países mais ricos para problemas e situações vividas nos países em desenvolvimento, como relações comerciais injustas ou questões sobre renegociação de dívidas.