O Estado de São Paulo, n. 46846, 20/01/2022. Política, p.A11

 

 

Articulações partidárias já indicam estreitamento da 'terceira via'

 

Setores do MDB e do PSDB sugerem aliança entre Doria e Simone Tebet; Moro admite conversas com Novo e Cidadania
LAURIBERTO POMPEU
NAATÁLIA SANTOS


Recentes movimentações partidárias indicam um possível afunilamento das pré-candidaturas da chamada “terceira via” ao Palácio do Planalto. No PSDB e no MDB, alas das duas legendas têm pressionado por uma aliança entre seus respectivos presidenciáveis, o governador João Doria e a senadora Simone Tebet (MS). No Podemos, o pré-candidato do partido, o ex-juiz Sérgio Moro, admitiu conversas com Cidadania e Novo, siglas que também lançaram nomes na disputa.

Com desempenho considerado fraco nas pesquisas de intenção de voto até agora – Doria tem 2% e Simone, 1%, de acordo com o mais recente levantamento do Ipec –, o governador e a senadora conversaram no mês passado, mas não há ainda uma definição sobre uma eventual aliança.

O ex-presidente Michel Temer (MDB) é um dos que tentam atrair Doria para a campanha de Simone. Em dezembro, Temer esteve com o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), que perdeu para o governador paulista a indicação tucana nas prévias presidenciais. “Não pode a aspiração pessoal de qualquer pessoa, por mais legítima que seja, prejudicar a viabilização de uma alternativa à polarização que aí está”, disse Leite.

Na semana passada, foi a vez de o ex-presidente receber o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE). Segundo relatos de integrantes dos dois partidos, Tasso disse considerar o nome de Simone “uma surpresa positiva” na corrida eleitoral. O parlamentar foi um dos apoiadores da senadora quando ela tentou ser presidente do Senado, no início de 2021. Procurada, a assessoria de Tasso não informou o que foi discutido com Temer.

Defensores do apoio à précandidatura de Simone argumentam que ela tem menos rejeição que Doria e, portanto, teria mais chances de se consolidar como um nome do centro – a senadora registrou 5%, enquanto o tucano apareceu com 23% na pesquisa Ipec. A emedebista, porém, enfrenta resistência de setores do próprio partido – especialmente do Nordeste e do Norte. Esse grupo defende uma aliança do MDB em torno do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Simone disse ao Estadão que tem proximidade com Tasso, mas afirmou desconhecer articulações do PSDB para apoiá-la. “Com Tasso falo sempre. Somos colegas, mas não sei de movimento algum”, afirmou. Os dois atuaram juntos na CPI da Covid, que ajudou a

projetar a emedebista.

VICE. Do outro lado, o entorno de Doria trata Simone como opção de vice. A avaliação interna é a de que a campanha do governador deve ganhar tração nos próximos meses, quando a população começar a associar avanços na vacinação e na economia do Estado à candidatura presidencial. O tucano tem como bandeira eleitoral o empenho na imunização contra covid-19, que começou por São Paulo, há um ano.

Aliados de Doria rebateram a crítica sobre a rejeição, destacando que esse índice tem relação com o conhecimento do candidato. Lembraram, ainda, que o tucano, quando conquistou a Prefeitura de São Paulo, em 2016, também não apresentava bons resultados nas pesquisas meses antes de eleição.

O presidente do PSDB de São Paulo e secretário estadual de Desenvolvimento Regional, Marco Vinholi, descartou qualquer recuo de Doria na disputa ao Planalto. “Nenhuma chance de não ser candidato”, disse. “Doria está avançando a cada dia, seja na mobilização do partido, na unidade, na montagem de candidaturas nos Estados. Ontem

(anteontem) mesmo, no Paraná, junto com Beto Richa, filiou o nosso pré-candidato a governador, Cesar Silvestre Filho, vindo do Podemos.”

Doria tem dito que deseja ter uma mulher na sua chapa. Procurado, o governador afirmou, por meio da equipe de pré-campanha, que ele e Simone estarão juntos na eleição.

Em São Paulo, as duas legendas fazem parte do mesmo grupo político. O PSDB é da base do prefeito da capital paulista, Ricardo Nunes (MDB), e o MDB integra o governo Doria. Nunes disse confiar que Simone ganhe musculatura e atraia o apoio de outras legendas. “Estou confiante que a população verá as qualidades da Simone, ela irá crescer. As consequências são naturais”, afirmou o prefeito ao Estadão.

‘PROJETO CONJUNTO’. Presidenciável do Podemos, Moro disse ontem que sua legenda tem conversado com outros partidos. Segundo ele, a ideia é promover a “construção conjunta” de um projeto nacional. Ele citou o União Brasil (fusão do PSL com o DEM), o Cidadania e o Novo. “Se um partido puder vir (para formar uma aliança), ótimo. Caso contrário, se tivermos apoio de outros partidos (em um eventual governo), como tem acontecido com (integrantes do) Novo, Cidadania e União Brasil, teremos condições de construir um projeto em conjunto”, afirmou o ex-juiz, em entrevista à rádio Jovem Pan Maringá. Novo e Cidadania, no entanto, já têm pré-candidatos lançados ao Planalto – o cientista político Luiz Felipe d’avila e o senador Alessandro Vieira (SE), respectivamente.

Questionado durante outra entrevista, desta vez à Rádio Difusora de Nortelândia-mt, sobre uma possível migração para o União Brasil, Moro disse não ter “nada concreto”. “Estou no Podemos”, declarou o ex-juiz. 

 

 

“Se tivermos apoio de outros partidos, teremos condições de construir um projeto em conjunto.”

Sérgio Moro

Pré-candidato do Podemos à Presidência