O Estado de São Paulo, n. 46849, 23/01/2022. Metrópole, p.A21

 

 

Ministério da Saúde diz que 'kit covid' é eficaz e vacina, não

 

 

 

Nota técnica busca barrar diretrizes que contraindicam os medicamentos; líder da oposição diz que vai acionar o Supremo


DANIEL WETERMAN

Nota técnica foi publicada pelo Ministério para justificar a rejeição a protocolo contra uso do "kit covid".

Uma nota técnica publicada pelo Ministério da Saúde para barrar as diretrizes que contraindicam o uso do chamado "kit covid" classifica a hidroxicloroquina como eficaz para o tratamento contra a covid-19 e afirma que as vacinas não demonstram a mesma efetividade, contrariando uma série de estudos e orientações sanitárias pelo mundo. Houve críticas nas redes sociais e o líder da oposição no Senado, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), anunciou que vai acionar o Supremo Tribunal Federal (STF) para barrar o incentivo ao medicamento em vez da vacina.

A nota é assinada apenas pelo secretário de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos em Saúde da pasta, Hélio Angotti Neto. Uma das colunas de uma das tabelas publicadas questiona se há demonstração de efetividade em estudos controlados e randomizados para a covid-19. A resposta é "sim" para a hidroxicloroquina e "não" para as vacinas. A tabela contrapõe os dois métodos ao afirmar que o medicamento tem demonstração de segurança em estudos experimentais e observacionais contra a covid e a vacina não tem a mesma resposta.

Além disso, a cloroquina teria um custo baixo sem recomendação das sociedades médicas e sem financiamento da indústria, enquanto as vacinas representariam um custo alto com financiamento da indústria e recomendação dos especialistas. A nota cita "treze estudos controlados e randomizados com direções de efeito favoráveis à hidroxicloroquina, com efeito médio de redução de risco relativo de 26% nas hospitalizações, altamente promissor para o uso discricionário e prosseguimento dos estudos". Para a falta de efetividade das vacinas, a referência citada são "dezoito ensaios não finalizados, dos quais, oito ainda em fase de recrutamento, nove ainda não finalizaram o seguimento e um finalizado, mas ainda em fase insuficiente para a avaliação de segurança".

A hidroxicloroquina e outros medicamentos chegaram a ser testados contra a covid19, mas a eficácia não foi observada logo após as primeiras fases de estudos. Ainda no primeiro ano da pandemia do novo coronavírus, um estudo brasileiro coordenado pelos principais hospitais privados do País apontou a ineficácia do medicamento. A mesma conclusão foi observada pela Organização Mundial da Saúde (OMS). O Estadão Verifica já mostrou que diversos estudos falharam em comprovar que o medicamento teria algum efeito no tratamento da doença.

CONTRADIÇÃO.

O questionamento da eficácia das vacinas contraria políticas do próprio Ministério da Saúde. Neste sábado, o ministro Marcelo Queiroga participou de uma ação para incentivar a vacinação e a testagem da população nos Estados da Região Norte com Angotti Neto.

Prática diversa Questionamento contraria políticas; secretaria citada até patrocinou estudo de eficácia de vacinas

Ao lado do secretário responsável pela nota técnica, o prefeito de Porto Velho, Hildon Chaves (PSDB), criticou iniciativas contra a vacinação da população no momento em que há um avanço da variante Ômicron. "Movimentos como esse, secretário, representam a vitória da ciência, da racionalidade, sobre o obscurantismo." Já Queiroga citou um estudo patrocinado pela secretaria de Angotti Neto e publicado na revista Lancet, comprovando a efetividade das vacinas. •