O Estado de São Paulo, n. 46849, 23/01/2022. Metrópole, p.A22

 

 

 

Diretores da Anvisa voltam a sofrer ameaças após aval à Coronavac

 

 

Em uma das mensagens, o agressor afirma que 'o preço que você vai pagar (pela aprovação da vacina para crianças) será altíssimo'


GUILHERME PIMENTA

Diretores e servidores da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) voltaram a sofrer ameaças após a agência dar aval à aplicação da Coronavac em crianças e adolescentes para combate à covid-19. Até então, a única vacina aprovada no Brasil para a população pediátrica era o imunizante da Pfizer, que já começou a ser aplicado em crianças de 5 a 12 anos.

Na quinta-feira, em uma reunião que durou mais de três horas, técnicos da Anvisa apresentaram dados da Coronavac enviados pelo Instituto Butantan. Os estudos demonstraram a segurança e a efetividade da aplicação de duas doses do imunizante, com intervalo de 28 dias, na população entre 6 e 17 anos.

Logo após a aprovação, o órgão começou a receber os primeiros e-mails com as ameaças. Em uma das mensagens, encaminhada à diretoria 2 da Anvisa, na qual é feita a análise técnica das vacinas, o agressor afirma que "o preço que vc (sic) vai pagar será altíssimo".

Já a quinta diretoria, onde ocorre o monitoramento de efeitos adversos, recebeu uma ameaça na qual é dito que "o preço a ser pago será terrível não quero estar na sua pele (sic)". Outras mensagens com teor de ameaça também foram recebidas, de acordo com o órgão, mas não foram divulgadas. Segundo o jornal O Globo, uma pessoa que se identificou apenas como Nilza chegou a acusar os funcionários da agência de colocarem "vida inocentes na roleta russa". E disse que os servidores serão vítimas de uma "maldição": "o preço a ser pago será terrível não quero estar na sua pele e oro a Deus em desfavor de todos que tem causado dor e sofrimentos ao seu próximo, lembre se o próximo pode ser dentro de sua família (sic)."

DEZEMBRO.

Essa não é a primeira vez que servidores e diretores da agência sofrem ameaças em decorrência da aprovação de vacinas. Em dezembro, após o presidente da República, Jair Bolsonaro (PL), defender a divulgação do nome dos técnicos que autorizaram a aplicação da Pfizer em crianças, membros do órgão passaram a sofrer as primeiras ameaças de morte, que ainda estão sendo investigadas pela Polícia Federal.

Na ocasião, a Anvisa reagiu de forma dura às declarações de Bolsonaro e disse "repudiar com veemência" ameaças feitas contra funcionários do corpo técnico do órgão. A Anvisa afirmou na oportunidade, em nota assinada pela diretoria e pelo presidente Antônio Barra Torres, que "seu ambiente de trabalho é isento de pressões internas e avesso a pressões externas".

À época, o procurador-geral da República, Augusto Aras, informou ao presidente da Anvisa também ter determinado a "adoção de providências" para "assegurar a proteção" dos diretores do órgão. Até as 18 horas deste sábado, a Anvisa ainda não havia se posicionado oficialmente sobre as últimas ameaças, o que só deve ocorrer na segunda-feira. •

Em apuração PF ainda investiga ameaça feita no mês passado, após o aval da diretoria para o imunizante da Pfizer