O Estado de São Paulo, n. 46851, 25/01/2022. Internacional, p.A11

 

 

OTAN desloca navios de guerra e caças para leste da Europa

 

 

Tensão com a Rússia no Leste da Europa Manobra é reação a possível invasão da Ucrânia
NYT, TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

Em reação a uma possível invasão da Ucrânia pela Rússia, a Otan anunciou reforço de segurança no leste da Europa. A Espanha despachou navios e considera enviar aviões para a Bulgária. A Dinamarca enviará fragata ao Mar Báltico e caças F-16 para a Lituânia. A França estuda enviar tropas para a Romênia e a Holanda deslocou caças F-35. Os EUA analisam o envio de soldados e equipamentos militares ao Leste Europeu e países do Báltico. A decisão é uma guinada na posição de Joe Biden, que vinha adotando cautela para não provocar reação russa e eventual ataque à Ucrânia.

O presidente dos EUA, Joe Biden, vem analisando o envio de milhares de soldados, navios e aviões ao Leste Europeu e países do Báltico. A decisão, que deve ser anunciada nos próximos dias, é uma guinada na posição americana, que vinha adotando cautela para não provocar uma reação russa e um eventual ataque à Ucrânia.

Com o presidente Vladimir Putin intensificando nos últimos dias as ameaças e as negociações diplomáticas se mostrando incapazes de dissuadilo, Biden deve abandonar a estratégia de evitar uma provocação. No sábado, em reunião em Camp David, retiro presidencial, funcionários do Pentágono apresentaram alternativas que aproximam perigosamente as forças dos EUA da fronteira com a Rússia.

Entre essas alternativas está o envio de até 5 mil soldados para a Europa Oriental, com a possibilidade de mobilização de dez vezes mais soldados, caso a situação se deteriore. Os funcionários falaram ao New York Times sob condição de anonimato, pois não estão autorizados a comentar as deliberações.

REFORÇO. "Mesmo nos dedicando à diplomacia, nosso foco está em reforçar as defesas e as forças de dissuasão", afirmou o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, no domingo, em entrevista ao programa Face the Nation, da CBS. "A própria Otan continuará a receber reforços significativos em caso de novos atos de agressão por parte da Rússia. Tudo isso faz parte das nossas opções."

Até o momento, nenhuma das alternativas militares em consideração envolve o envio de forças americanas para a própria Ucrânia – e Biden deixou claro que não pretende se envolver em um novo conflito após a saída do Afeganistão, no ano passado, após 20 anos de presença no país.

Mas, depois de anos evitando dar uma resposta direta sobre a melhor forma de enviar apoio à Ucrânia, por medo de provocar a Rússia, funcionários do governo Biden agora falam abertamente em apoiar uma insurgência ucraniana, caso Putin decida invadir o país.

Ironicamente, de acordo com analistas, a mobilização de milhares de forças americanas no flanco oriental da Otan, que inclui Estônia, Letônia e Lituânia, é exatamente o cenário que Putin pretendia evitar, pois vê como uma ameaça o avanço da aliança militar, cada vez mais perto de suas fronteiras. OTAN. Ontem, a Otan anunciou um reforço da segurança no Leste da Europa. "A Espanha despachou navios e considera enviar aviões para a Bulgária. A Dinamarca enviará uma fragata ao Mar Báltico e mobilizará quatro caças F-16 para a Lituânia", disse a aliança, em comunicado. A França estuda enviar tropas para a Romênia e a Holanda deslocou dois caças F-35 para a região.

No entanto, Jim Townsend, ex-funcionário do alto escalão do Pentágono, responsável pela elaboração de políticas para a Europa e a Otan, disse que o esforço ficará aquém do necessário. "É tarde demais para dissuadir Putin com tão pouco", disse. "Se os russos invadirem a Ucrânia em algumas semanas, esses 5 mil soldados dos EUA devem ser apenas a primeira parcela de uma força americana e aliada muito maior. A Europa voltará a ser um campo armado."