Título: Ministério pede ajuda de militares
Autor: Florença Mazza e Waleska Borges
Fonte: Jornal do Brasil, 17/03/2005, Rio, p. A13

Hospitais da Marinha, Exército e Aeronáutica vão ser visitados hoje. Ontem, inspeção no Andaraí encontrou irregularidades

O Ministério da Saúde pediu ajuda às Forças Armadas para resolver a crise nos seis hospitais do município sob intervenção federal. Hoje, integrantes do grupo de trabalho criado para gerenciar a crise vão visitar unidades hospitalares do Exército, Aeronáutica e Marinha. Será elaborado um relatório com as possibilidades de colaboração entre governo federal e Forças Armadas. Um dos alvos principais é a utilização dos laboratórios que produzem medicamentos. Segundo o coordenador do Comitê de Gestão dos Hospitais, Sérgio Cortes, apesar dos hospitais das Forças Armadas estarem sobrecarregados, a reunião de ontem com os representantes dos militares foi positiva.

- Eles se mostraram bastante otimistas na possibilidade de nos ajudar dentro das limitações existentes - disse Cortes.

Segundo o representante do Ministério da Saúde, os militares ainda não possuem uma listagem com os serviços disponíveis. Durante o encontro, foram apresentadas propostas de colaboração com equipamentos, recursos humanos, leitos de terapia intensiva e a realização de cirurgias.

- A parceira representa a formação de uma rede que faltava na cidade - explicou Cortes.

Hoje pela manhã, a visita dos representantes do Ministério da Saúde começa pela Marinha seguida, durante o dia, nas unidades do Exército e da Aeronáutica.

- Os militares têm laboratórios que fabricam medicamentos e já seriam uma grande ajuda para a nossa situação emergencial.

Enquanto as autoridades correm contra o tempo para buscar ajuda, auditores do Departamento Nacional de Auditoria do SUS (Denasus) chocam-se com o desperdício. Na manhã de ontem, um grupo de sete auditores encontraram equipamentos abandonados num almoxarifado no Hospital do Andaraí. Aparelhos como intensificador de imagem, processadora de radiografia, ampolas para raios-X, computadores e até três cadeiras de rodas novas e embaladas estão guardados no subsolo do hospital. Também foram encontradas três caixas com líquidos de diálise com prazo de validade vencida, desde março de 2004.

Segundo Paulo Sérgio Nunes, diretor do Denasus, desde 2002, o hospital não faz o inventário com os equipamentos que chegam para a unidade. Para a coordenadora geral de auditoria, Raimunda Carvalho, o material estocado revela ''um problema de gerenciamento''.

- Encontramos medicamentos em bom estado de conservação. Alguns deles, tiveram os lacres retirados hoje (ontem) à tarde - lamentou Nunes.

Segundo o auditor, os equipamentos encontrados no Andaraí podem ser usados em outras unidades da rede de Saúde. Nunes também informou que os equipamentos estavam guardados no almoxarifado sem o conhecimento dos gestores da unidade.

- É uma analogia. Enquanto cadeiras de rodas estavam no almoxarifado, vimos a cena de uma senhora carregando o pai no colo - comparou Nunes.

Em paralelo ao trabalho dos auditores, a interventora federal no Andaraí Roseli Monteiro, que também é diretora do Hospital Geral de Bonsucesso, distribuia 30 cestas básicas para maqueiros que estão sem pagamento desde janeiro. Os alimentos foram doados por voluntários.

- Tenho três filhos, um deles está internado aqui no Andaraí. Moro em Realengo, preciso pegar quatro conduções e não tenho dinheiro - contou Marcelo Oliveira, 26 anos.

A Câmara dos Vereadores instalou ontem a CPI para apurar a crise na saúde nos hospitais do Rio. Segundo o vereador Luiz Antônio Guaraná (PSDB), presidente da comissão, na sexta-feira, representantes do Governo Federal e do Estado participam de uma audiência pública na casa legislativa.