O Estado de São Paulo, n. 46855, 29/01/2022. Economia, p.B2

 

 

 

O que nos espera em 2022

 

JOSÉ MÁRCIO CAMARGO

Professor titular do Departamento de Economia da PUC-RIO (aposentado) e economista-chefe da Genial Investimentos

Nossa projeção é de baixo crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), diante da elevação da taxa de juros para combater o processo inflacionário. Por outro lado, a mudança do teto de gasto gera desconfiança quanto à manutenção do processo de consolidação fiscal em um ano eleitoral e aumenta a volatilidade e a incerteza.

Projetamos desaceleração da inflação no ano diante do aumento da Selic para um terreno significativamente contracionista, visando a ancorar as expectativas de inflação para o horizonte de 2023 em diante.

A importante exceção é o setor de serviços. A redução do número de casos e de óbitos permitiu a diminuição das medidas de restrição à mobilidade urbana e de isolamento social, o que deverá manter a demanda por serviços em crescimento. Entretanto, o cenário para a atividade é de crescimento fraco no quarto trimestre de 2021 e no início de 2022, e o consumo das famílias deverá ser limitado pelo elevado endividamento.

Com a inflação em alta, o Brasil terá, provavelmente, a maior taxa de juros entre os emergentes. Projetamos que a Selic chegará a 12,50% ao final do 1.° trimestre de 2022. O diferencial de juros em relação aos nossos pares deve ser um vetor para apreciação do real. Entretanto, dado o elevado risco fiscal, avaliamos que será um ano com muita volatilidade e aumento dos prêmios de risco. Projetamos uma taxa de câmbio em R$ 5,70/US$ 1.

Do lado positivo, vemos sinais de crescimento da economia mundial, o que ajuda as exportações brasileiras; boas safras; elevado caixa nos Estados, que poderá gerar aumento de gastos; o novo programa Auxílio Brasil e a volta dos investimentos privados, devido às reformas realizadas nos últimos cinco anos; os novos marcos regulatórios e os leilões de concessões e privatizações deverão induzir o crescimento da economia.

O arrefecimento da pandemia deverá ser o principal driver de crescimento. A normalização de subsetores do setor serviços que ainda estão muito abaixo do nível pré-pandemia implicaria um avanço de, aproximadamente, 3% deste setor, reduzindo a taxa de desemprego. Neste contexto, o comportamento da variante Ômicron será um importante fator de risco.

A inflação deverá desacelerar para 5,3% em 2022. Nossa projeção aponta para crescimento do PIB de 0,6% sustentado pelos avanços do setor de serviços, investimentos e agropecuária.