O Estado de São Paulo, n. 46524, 04/03/2021. Metrópole, p. A17
País tem 1.840 mortes e ministério vai adquirir as vacinas de Pfizer e Jansen
Mateus Vargas
04/03/2021
Após meses rejeitando propostas, Pazuello diz que fecha contrato de 99 milhões de doses da Pfizer e acelera negociação de 38 milhões da Jansen (de dose única); anúncio ocorre no momento em que o País quebra 5º recorde seguido de mortes e imunização só atinge 3,47%
Sob pressão, com a quantidade de mortes pela covid-19 continuando a bater recordes diários, o aumento das restrições à circulação pelo País e o avanço ainda lento da imunização, o Ministério da Saúde informou ontem que acertou a compra de 99 milhões de doses da vacina da Pfizer e negocia a aquisição do imunizante da Janssen. Isso após meses rejeitando propostas dessas empresas.
O consórcio de veículos de imprensa, composto por Estadão, G1, O Globo, Extra, Folha e UOL, relatou ontem 1.840 mortes pela covid-19 em 24 horas, o quinto recorde consecutivo. Além disso, o número põe o Brasil perto de assumir a liderança nos registros diários de óbitos em todo o mundo, só atrás dos Estados Unidos, que têm observado queda na incidência nas últimas semanas – e a maioria dos grupos de verificação já aponta mortes diárias abaixo de 2 mil.
São 43 dias seguidos com média móvel (a dos últimos sete dias) acima de mil – foram 1.332. Na prática, isso significa dizer que 9,3 mil pessoas morreram na última semana. O Brasil vive o seu pior momento da pandemia. Dezoito Estados e o Distrito Federal têm taxa de ocupação de leitos de UTI covid acima dos 80%. Nesta quarta-feira, houve 367 óbitos relatados em São Paulo, 227 em Minas, 186 no Rio e 179 no Rio Grande do Sul. No geral, há quase 260 mil mortes (são 259.402).
Imunizados. O número de pessoas vacinadas com a primeira dose contra a covid-19 no Brasil chegou ontem a 7.351.265, de acordo com dados reunidos pelo consórcio de veículos de imprensa, o que representa só 3,47% da população. Como comparação, os EUA relatam 78 milhões de imunizados.
Ontem o Ministério da Saúde informou que o titular da pasta, Eduardo Pazuello, pediu para a sua equipe "acelerar" os contratos com as farmacêuticas. "Estamos discutindo a possibilidade de contratação da vacina da Pfizer, que hoje se torna realidade", disse o general, em vídeo, após reunião com a farmacêutica. Pazuello e o presidente Jair Bolsonaro rejeitam há meses a oferta da Pfizer. A previsão agora é de compra de 99 milhões de doses, e 9 milhões chegariam ao País até junho, 30 milhões até setembro e o restante até o fim do ano. Nos últimos meses, o titular da Saúde tem sido pressionado a avançar nas negociações com as farmacêuticas e a ampliar a lista de vacinas.
A Câmara dos Deputados aprovou na terça-feira um projeto de lei para que a União possa assumir as responsabilidades por eventuais efeitos adversos de vacinas da covid-19. Trata-se de exigência da Pfizer e da Janssen que o governo vinha apontando como abusiva. Como revelou o Estadão, esta permissão chegou a ser colocada em versão prévia da Medida Provisória 1.026, com aval da pasta de Pazuello e da área jurídica do governo, mas foi excluída do texto final, publicado em janeiro.
Dose única. Pazuello também pediu para a sua equipe acelerar a compra da vacina da Janssen, segundo apurou o Estadão com um auxiliar do ministro. Este imunizante tem eficácia de 66% e exige a aplicação de apenas uma dose, mas ainda não tem aval para uso no Brasil. O Brasil negocia 38 milhões de doses do produto, que chegariam ao País a partir de outubro. Também procurada, a Janssen não se manifestou.
A vacina da Pfizer foi a primeira a receber registro pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) contra a covid-19, em 23 de fevereiro. O imunizante tem eficácia global de 95%. Para a população acima de 65 anos, alcança 94%.
Apesar da alta eficácia, Bolsonaro desdenhou em mais de uma oportunidade da proposta do laboratório. "Lá no contrato da Pfizer está bem claro: 'Não nos responsabilizamos por qualquer efeito colateral. Se você virar um jacaré, é problema de você'", disse o presidente em 17 de dezembro. Procurada pela reportagem, a farmacêutica americana ainda não se manifestou. Pazuello deve ser reunir com representantes da empresa ainda nesta quarta.
A previsão de compra de Pazuello também pode esfriar articulações de prefeitos e governadores para a compra de produtos em consórcio (mais informações ao lado). Essa possibilidade foi levada ao ministro durante a reunião. O titular da Saúde, no entanto, tem dito que todas as vacinas com registro no País serão adquiridas pelo governo federal, não havendo a necessidade de que Estados e municípios adquiram por conta própria.