O Estado de São Paulo, n. 46524, 04/03/2021. Economia, p. B3

País deixa grupo das dez maiores economias
Mariana Durão
04/02/2021



Brasil cai para 12ª posição e é ultrapassado na lista por Canadá, Coreia do Sul e Rússia

Com a queda de 4,1% do PIB em 2020, o Brasil confirmou a saída do grupo das dez maiores economias do mundo, mostra levantamento da agência de classificação de risco Austin Rating, com dados do Fundo Monetário Internacional (FMI). Além da recessão global causada pela covid-19, a desvalorização do real frente ao dólar e o desempenho relativamente melhor de países como a Coreia do Sul levaram a economia brasileira, no ano passado, para o 12.º lugar entre as maiores do mundo, com participação de 1,6% no PIB global.

Em 2011, após dois anos de forte crescimento e no auge da valorização do real frente ao dólar, o País chegou à posição de 7.ª maior economia do mundo, posto que ocupou até 2014. Quando veio a recessão de 2014 a 2016, o Brasil perdeu duas posições, passando para o 8.º lugar em 2017 e para o 9.º, em 2018 e 2019.

Com a crise da covid-19 e seus impactos na economia mundial, o PIB do Brasil em dólares passou de US$ 1,8 trilhão para US$ 1,4 trilhão até o fim do ano passado. Assim, a economia brasileira foi ultrapassada por Rússia, Coreia do Sul e Canadá.

Para 2021, nas contas da Austin Rating, a estimativa é que o País desça ao 14.º lugar entre as maiores economias do mundo, considerando uma projeção de crescimento para o Brasil de 3,3% este ano. Austrália e Espanha deverão ganhar posições.

Para o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, faltam elementos estruturais para sustentar crescimento maior no Brasil. "Em 2021, o País vai crescer por efeito estatístico, mas e depois? Provavelmente, vamos voltar para a gangorra econômica, porque falta um ambiente político coeso. Em termos estruturais, isto é, fiscal, reformas, atração de investimento, vamos avançar pouco. Tudo isso compromete o crescimento de longo prazo", disse.

Tombo menor. Os dados da Austin Rating confirmam levantamento feito no ano passado pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (IBRE/FGV), após o FMI atualizar seus dados, em outubro. Mesmo fora do grupo das dez maiores do mundo, o desempenho da economia brasileira nem ficou entre os piores, quando comparado com outros países. No ranking de crescimento econômico de 50 países elaborado pela Austin Rating, o Brasil ficou em 21.º lugar no ano passado. O tombo da economia brasileira foi menor que o da média do grupo de 50 países (4,8%). No agregado do PIB mundial, a queda ficou em 3,5%.

O desempenho foi melhor do que o dos vizinhos da América do Sul incluídos no levantamento. O PIB da Colômbia tombou 6,8% (38.º lugar no ranking de crescimento), enquanto o Peru ficou com o pior desempenho da lista, com uma perda de 11,1%. A Argentina não foi incluída – em janeiro, o FMI projetava tombo de 10,4% para a economia argentina.

Conforme o levantamento da Austin Rating, apenas três países terminaram o ano marcado pela pandemia da covid19 no azul: Taiwan (+3,1%), China (+2,0%) e Turquia (+1,6%). No quarto trimestre, essas economias demonstraram desaceleração. A China cresceu 2,6% ante o terceiro trimestre, passando ao 15.º lugar na base trimestral, mas o gigante asiático tem a particularidade de ser o único país do mundo onde a crise começou antes – epicentro da pandemia, a China registrou o tombo do PIB no primeiro trimestre, enquanto o segundo já foi de recuperação, enquanto nos demais países o fundo do poço foi o segundo trimestre.

Entre os países desenvolvidos, os Estados Unidos aparecem na 16.ª posição do ranking da Austin Rating, com uma queda de 3,5% no PIB anual. O avanço da vacinação e a possibilidade de o governo do presidente Joe Biden aprovar um pacote de estímulos de US$ 1,9 trilhão vêm elevando as projeções para o crescimento americano em 2021.

'Gangorra econômica"

Em 2021, o País vai crescer por efeito estatístico, mas e depois? Provavelmente, vamos voltar para a gangorra econômica, porque falta um ambiente político coeso. Em termos estruturais."

Alex Agostini

ECONOMISTA-CHEFE DA AUSTIN RATING