Título: Chávez dá endosso a Teerã
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Fonte: Jornal do Brasil, 12/03/2005, Internacional, p. A8

Para Chávez, ter um programa atômico é um direito de todos os países

CARACAS - O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, manifestou seu apoio ao programa nuclear do Irã, que sofre forte oposição dos Estados Unidos e da Europa.

- O Irã tem todo direito do mundo, assim como outros países, de desenvolver sua própria energia atômica - disse Chávez ao presidente iraniano Mohammad Khatami, que está na Venezuela.

O Irã tenta resistir à pressão de Washington e da União Européia para abrir mão de partes de seu programa nuclear, como a tecnologia de enriquecimento de urânio, que pode ser utilizada para produzir armas atômicas. A Casa Branca acusa Teerã de utilizar o programa, por muito tempo mantido em segredo dos inspetores da ONU, como fachada para a produção bélica. Teerã afirma que se trata de um programa com fins pacíficos.

- Você pode contar com nosso apoio, nossa afeição e solidariedade contra as ameaças do governo dos EUA contra o país-irmão do Irã - disse Chávez depois da assinatura pelos dois países de mais de 20 acordos bilaterais de cooperação em energia e em outras áreas.

Mais cedo, Khatami, que foi condecorado por Chávez, disse que os dois países suportariam ''qualquer agressão'', mas não mencionou diretamente nem a questão nuclear nem os Estados Unidos. Nas últimas semanas, o autoproclamado socialista Chávez vem aumentando sua retórica antiamericana e reforçando relações de cooperação em energia com países como China, Rússia e Índia, dentro da estratégia que visa a equilibrar o que chama de hegemonia americana no mundo. A Venezuela é um dos maiores exportadores de petróleo para os Estados Unidos.

Após o encontro, o presidente venezuelano voltou ao tema em uma transmissão em cadeia nacional de rádio e televisão. Disse que seu país e o Irã vão ''encarar as pretensões de Washington''.

- Num discurso muito valente há algumas semanas, Khatami alertou contra isso e também nos tocou ao responder. Da mesma forma que os senhores, também os venezuelanos estamos resolvidos, bem resolvidos, a ser livres, e não haverá poder imperialista que se imponha.

O chanceler venezuelano, Alí Rodríguez, afirmou que os convênios assinados ''são degraus para concretizar objetivos mais específicos que foram emoldurados nos acordos gerais'' assinados por Venezuela e Irã nos últimos anos.

Ambos os países, membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), assinaram nos últimos seis anos 35 instrumentos bilaterais. O chanceler esclareceu que os resultados serão percebidos ''dentro de uns seis ou oito anos'' e ressaltou que os termos na área de construção e infra-estrutura poderão ser sentidos de forma mais imediata.

- Só a companhia iraniana Kayson construirá na Venezuela 10.000 casas - precisou.