Título: A globalização do medo
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 12/03/2005, Opinião, p. A10

Diante de um mundo imerso num momento de reflexão sobre as estratégias a serem adotadas no combate ao terrorismo, o Brasil ainda deve um engajamento mais sério e profundo no tema. Não se trata tão-somente de uma preocupação dos EUA. Tampouco uma fantasia persecutória da administração do presidente George W. Bush. O terrorismo constitui, acima de tudo, a pior ameaça contra a qual o mundo se defronta neste início de século, conforme definiu ontem o secretário-geral da ONU, Kofi Annan, em discurso na Cúpula Internacional sobre Democracia, Terrorismo e Segurança, que marca o aniversário do trágico atentado de Madri. O maior mérito da conferência mundial que ocorre na Espanha é a globalização definitiva do problema. A ONU propôs, por exemplo, a adoção de um amplo tratado global de combate ao terror. Há um consenso em torno da importância de identificar as razões que explicam a eclosão dos atos terroristas e buscar soluções conjuntas, a partir do esforço coletivo de cooperação internacional.

Os debates sugerem que as motivações extremistas decorrem de abismos não só religiosos, como também políticos, econômicos e culturais. Tais chagas abalam o presente e o futuro da democracia e da segurança de todas as nações. Por essas razões, o Brasil não pode ficar alheio ao debate. Principalmente porque são cada vez mais freqüentes e enfáticos os alertas sobre focos terroristas na chamada Tríplice Fronteira (Brasil, Argentina e Uruguai) - hoje motivo de preocupações comuns entre autoridades e agentes de inteligência brasileiros e americanos. Ali, organizações levantam ou lavam dinheiro em operações que envolvem um rico casamento entre drogas e terrorismo.

A perturbadora constatação sugere a necessidade de valorização crescente dos serviços de inteligência. Com a convicção de que, nestes tempos nebulosos, o mundo da espionagem eliminou barreiras geopolíticas, da mesma forma que se desmancharam as divisas para atividades criminosas, como o tráfico de drogas e armas e o terrorismo. O medo já não escolhe lugar, nem vítima.