Título: Fracasso municipal
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 12/03/2005, Opinião, p. A10

Os ruinosos episódios que culminaram com a decretação de calamidade pública nos hospitais do município do Rio de Janeiro revelam não apenas o descaso das autoridades com um drama humano de feições sombrias. Entre falhas evidentes verificadas em Brasília e no Rio, a crise explicitou o retumbante equívoco do prefeito Cesar Maia no tratamento do problema. Ele, afinal, assumiu o novo mandato, em janeiro deste ano, reconhecendo a fragilidade das ações da prefeitura na área da saúde. A inércia administrativa municipal estendeu-se muito além dos limites da irresponsabilidade. Superlotação, filas intermináveis, falta de medicamentos, número insuficiente de médicos e mau atendimento conjugam-se para a penalização dos cidadãos mais pobres. Enquanto isso, estimulado pelo seu partido, o PFL, o prefeito pareceu mais preocupado com fantasias presidenciais que não soube esconder. Mais grave: com a clara disposição de repassar o problema para os governos estadual e federal, Cesar Maia bateu de frente com um dos princípios estabelecidos de maneira bem-sucedida no país nos últimos anos: a municipalização dos serviços de saúde. O prefeito confronta o próprio SUS, uma das melhores experiências nacionais. No Rio, porém, o descaso rejeitou a gestão moderna que o SUS introduziu, como os programas de médico da família e a diferenciação do atendimento entre hospitais e postos de saúde. Ao elogiar a intervenção federal, o prefeito nada mais faz do que tentar neutralizar o próprio fracasso - à custa do sofrimento da população que o elegeu.