Correio Braziliense, n. 21181, 22/05/2021. Brasil, p. 5

 

Mutação indiana pode ter chegado ao Ceará

22/05/2021

 

 

CORONAVÍRUS » Depois de o Maranhão isolar seis pessoas infectadas pela cepa B.1.617, homem que desembarcou em Fortaleza vindo da Índia está sendo monitorado. Ministro acompanha os dois episódios e diz que governo está trabalhando para que micro-organismo não se espalhe

O Ceará monitora um caso suspeito da variante B.1.617 do coronavírus, que surgiu na Índia. O estado informou, ontem, que havia sido notificado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) sobre a suspeita no início da semana. Porém, especialistas acreditam que a mutação do micro-organismo já teria se espalhado pelo país.

O paciente, que está em Fortaleza, voltou de uma viagem à Índia em 9 de maio. Segundo a Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), o infectado tem 35 anos, fez dois exames RT-PCR, em 10 e 11 de maio, e ambos deram positivo. Uma semana depois, repetiu o exame e o resultado foi negativo. O colega de empresa que o acompanhou durante a viagem também fez testes para identificar a infecção por coronavírus, em 10 e 12 de maio, que deram negativos.

A secretaria informou que todas as pessoas que chegam ao Ceará oriundas de países com circulação de variantes devem cumprir quarentena de 14 dias, o que está sendo respeitado pelos viajantes e monitorado pela pasta. A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) está fazendo o sequenciamento genômico para determinar se o homem foi infectado pela variante indiana. A Sesa disse que está acompanhando o processo.

Na última quinta-feira, o Maranhão confirmou os primeiros casos da variante indiana no Brasil. Os pacientes estão a bordo do navio MV Shandong da Zhi, procedente da África do Sul. Ao todo, 15 tripulantes da embarcação testaram positivo para a covid-19 e pelo menos seis foram infectados pela cepa B.1.617. Um deles está internado na UTI em um hospital privado de São Luís. Nas últimas semanas, a variante foi detectada em 44 países.

O navio está fundeado a 50 quilômetros da costa e ainda não tem permissão para atracar no porto maranhense. Todos os tripulantes estão isolados em cabines individuais.

A variante B.1.617 foi classificada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma "preocupação global" porque pode ter capacidade de transmissão maior do que a cepa original do vírus. No entanto, a instituição ressalta que as vacinas protegem contra "todas as variantes" do vetor da covid-19.

Na semana passada, o presidente Jair Bolsonaro proibiu voos internacionais com origem ou passagem pela Índia.

Problema

O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, reconheceu, ontem, que a variante indiana representa um problema global, motivo pelo qual determinou bloqueios em aeroportos e portos — sobretudo na região Sul, pois a Argentina tem mais casos confirmados com a B.1.617. E disse que a Anvisa de saúde foi muito eficiente ao detectar e isolar os suspeitos.

Como forma de tentar frear o avanço da B.1.617, a cidade de São Paulo quer criar barreiras sanitárias em aeroportos, segundo o secretário da Saúde, Edison Aparecido, e traçar um plano conjunto coordenado pelo Ministério da Saúde e pela Anvisa. "Ele (o ministro Marcelo Queiroga) disse que seria muito importante haver uma estratégia comum". (Colaboraram Bruna Lima, Alexia Oliveira* e Gabriela Bernardes*, estagiárias* sob a supervisão de Fabio Grecchi)