Correio Braziliense, n. 21187, 28/05/2021. Política, p. 4
Pazuello nega transgressão
Renato Souza
Sarah Teófilo
Augusto Fernandes
28/05/2021
PODER » Na defesa que fez para escapar à punição por ter participado do palanque, no último domingo, no Rio de Janeiro, general disse que agiu de acordo com a "honra pessoal" e que não podia fazer uma desfeita com a presença do comandante supremo das FAs
Em documento enviado ao Comando do Exército, ontem, no último dia do prazo para apresentar defesa, o general e ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello negou ter cometido transgressão disciplinar ao participar de ato político em favor do presidente Jair Bolsonaro, no Rio de Janeiro, no último domingo. Ele afirma que agiu de acordo com a "honra pessoal" e citou o artigo 6 do Regimento Disciplinar do Exército.
Neste trecho, o código deontológico prevê que a aplicação do regimento da corporação deve ser aplicado levando em consideração a "honra pessoal: sentimento de dignidade própria, como o apreço e o respeito de que é objeto ou se torna merecedor o militar, perante seus superiores, pares e subordinados". Pazuello justifica que estava no evento com o presidente da República, comandante-em-chefe das Forças Armadas. O regimento proíbe que militares da ativa participem de ato político. Naquele evento, estavam reunidos motociclistas e militantes que apoiam Bolsonaro.
Situação delicada
O comandante do Exército, de acordo com fontes militares, tem até oito dias para tomar uma decisão sobre o caso de Pazuello. Ele se encontrou com Bolsonaro em São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas, e segundo os bastidores da caserna a tendência é de que a punição seja branda — para evitar atritos com o presidente, que promete suspender qualquer sanção mais pesada contra o ex-ministro da Saúde, o que pode gerar uma crise sem precedentes entre a Arma e o Palácio do Planalto.
No entanto, existe o temor de que uma punição branda estimule a impunidade, fazendo com que outros integrantes do Exército se sintam livres para participar de eventos políticos, principalmente aqueles que contarem com a presença de Bolsonaro — e, dessa forma, minar a hierarquia nas Forças Armadas. Poderiam utilizar da mesma justificativa de Pazuello, alegando "honra pessoal" e prestigio à presença da maior autoridade militar do país.
Pazuello foi pressionado a solicitar transferência para a reserva, pois, assim, poderia se candidatar a cargos eletivos e participar de eventos políticos, sem envolver a imagem das Forças Armadas. No entanto, disse a interlocutores que só pretende deixar o serviço ativo em 2022, pois isso o deixaria vulnerável para enfrentar a CPI da Covid — correndo o risco de ter a prisão decretada por perjúrio no novo depoimento que prestará aos senadores.