Título: Prisão de nazista é festejada no Chile
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 12/03/2005, Internacional, p. A12

Paul Schaefer também era torturador na ditadura

SANTIAGO - Os habitantes da Colônia Dignidade comemoraram a detenção de seu ex-líder, Paul Schaefer, que converteu o lugar em um enclave onde opositores de Augusto Pinochet foram torturados e dezenas de crianças sofreram abusos.

- Sentimos alívio com essa captura - afirmou Michael Müller, porta-voz da agora chamada Villa Baviera, cujo acesso está pela primeira vez aberto e seus habitantes já não fogem dos estranhos. Segundo Müller, o ex-suboficial nazista que em 1961 fundou a Colônia em Parral, a 380 km ao Sul de Santiago, ''trouxe conflitos à comunidade''.

- Agora somos um grupo livre, aberto e transparente, com a intenção de plena integração - acrescentou Müller, ao garantir que a última vez que o ex-líder esteve no lugar, de 16 mil hectares, foi em 1996. Schaefer, de 83 anos, foi detido em Buenos Aires, depois de permanecer foragido por oito anos. É acusado de abusar sexualmente de 26 crianças e de responsabilidade no sumiço, em 1974, de Alvaro Vallejos Villagrán, dirigente do Movimento de Esquerda Revolucionária (MIR).

A detenção do ''Tio Permanente'', como Schaefer era chamado, foi feita por agentes argentinos da Interpol, que seguiam uma ordem internacional de captura expedida pelo juiz chileno Joaquín Billard, encarregado do caso de Vallejos.

O subsecretário do Interior, Jorge Correa Sutil, seguiu para Buenos Aires. Apesar de Schaefer estar ilegal em Buenos Aires, Correa disse que a expulsão ''é uma decisão do governo argentino'' e caso não aconteça, a extradição será pedida pelos canais regulares. Mas o réu tem idade avançada ''e um processo de extradição sempre é longo''.

O inexpugnável recinto da colônia - equipado com sensores de movimento e radares, além de vigiado por terra e ar - levou o ex-presidente Patricio Aylwin a qualificar o lugar de ''um Estado dentro de outro''.

Schaefer governava com mão de ferro, rejeitava as mulheres e tratava com dureza quem o desafiava. Tinha seguidores incondicionais e uma rede de proteção na região, o que o permitiu não só evitar as leis chilenas mas fugir da justiça.

Nascido em 4 de dezembro de 1921, em Siegburg, perto de Bonn, Schaefer perdeu o olho direito na II Guerra. Em 1966 Wolfgang Müller, um adolescente que fugiu, o acusou Schaefer de abuso. Depois do golpe de Augusto Pinochet, em 1973, o ex-líder começou a receber favores do regime em troca de permitir o uso da Dignidade como base de torturas.