Título: Meta de inflação mais distante
Autor: Maria de Lourdes Chagas
Fonte: Jornal do Brasil, 12/03/2005, Economia & Negócios, p. A18

Alta de preços no ano já queimou 20% do limite do BC

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de fevereiro teve variação de 0,59%, resultado semelhante ao de janeiro (0,58%), segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O acumulado dos dois meses, embora abaixo dos 1,37% verificados em igual período de 2004, soma 1,17%, enquanto a meta de inflação perseguida pelo Banco Central em 2005 é de 5,1%.

Especialistas dizem que a boa notícia foi que os núcleos da inflação baixaram, o que sinaliza que não há descontrole inflacionário. Desprezando variações exageradas de preços, os núcleos são os principais indicadores observados pelo Banco Central na condução da política monetária e na determinação da taxa básica de juros (Selic), usada para trazer a inflação à meta.

- A queda dos núcleos foi mais intensa do que esperávamos, principalmente por causa do recuo dos bens duráveis, como veículos - disse Ana Paula Almeida, economista da Tendências Consultoria.

Segundo ela, o núcleo, que exclui as maiores altas e as maiores quedas e dilui o impacto das tarifas em 12 meses, passou de 0,66% em janeiro para 0,60% em fevereiro. Esse é o fator preferido pelo Banco Central em suas análises.

Embora concorde com a importância do resultado, Alex Agostini, da GRC Visão acredita que isso não deve alterar a decisão do BC de elevar novamente a Selic na semana que vem. Ele projeta uma alta de 0,5 ponto percentual - hoje, a taxa está em 18,75% ao ano. Só a partir de abril, prevê, é que o Banco Central deve interromper a trajetória de aumento dos juros.

A maior contribuição veio do reajuste das mensalidades escolares. Os colégios subiram 6,29%, contribuindo com 0,25 ponto percentual (ou 42%) da variação do índice. O impacto atenuou a desaceleração dos preços detectada pelo IBGE. Segundo o instituto, o recente recuo do dólar - que chegou a baixar para o patamar de R$ 2,60, mas já retornou aos R$ 2,70 - permitiu a queda do preço de vários produtos que sofrem influência da moeda norte-americana.

Sob efeito do câmbio, caíram os preços de alimentos como açúcar refinado (-3,06%), farinha de trigo (-1,36%) e óleo de soja (-1,36%).

A queda dos preços dos combustíveis também contribuiu para conter o IPCA em fevereiro. Cotado no mercado internacional, o álcool teve queda 1,44% em fevereiro. A gasolina, que leva 25% do produto em sua composição caiu, a reboque, 0,79%.

Com Folhapress