Título: Governistas só querem reeleição
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Fonte: Jornal do Brasil, 21/03/2005, País, p. A2

RECIFE - O ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, defendeu, na festa do partido, que o PT faça aliança política com partidos que chamou de ''centro-direita'' para reeleger o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

- O nosso desafio não é só de concluir este ano e avançar em 2006. É o desafio de reeleger o presidente Lula, reelegendo o nosso projeto - disse em discurso na festa de 25 anos do PT, na noite de sábado, em Recife. Dirceu destacou que a responsabilidade do partido é ''não só fazer uma revolução social, mas sustentar um projeto de desenvolvimento nacional''.

Segundo o ministro, o governo Lula está ''reorganizando o Estado'', depois de oito anos de gestão neoliberal de FHC. Antes de falar abertamente na reeleição de Lula, Dirceu insistiu na tese de que a antecipação do debate eleitoral é obra da oposição:

- Primeiro, temos de governar. 2005 não é ano de eleição. Não adianta a direita e a oposição quererem nos arrastar para uma agenda eleitoral.

Enumerou o que seriam as ''tarefas'' do mandato, entre elas melhorar a eficiência da máquina, consolidar os programas sociais e a maioria no Congresso.

A menção à base parlamentar foi o gancho para que o próprio ministro transformasse 2006 no centro de seu discurso. Segundo ele, é necessário firmar ''uma coalizão ampla, mais que uma coalizão de centro-esquerda''.

Ele diferenciou os aliados históricos - entre os quais citou o PSB e o PC do B - dos novos aliados, que chamou de ''outras forças políticas''.

- Não confundimos necessidade com virtude, nem tática com estratégia. E não podemos confundir o necessário pragmatismo com conformismo, nem aliança com conciliação - disse. A aliança da eleição de 2002 foi citada como modelo para 2006.

Dirceu não foi o único a usar a idéia de aliança para, ainda que indiretamente, justificar a perda de cargos pelo PT na reforma ministerial - o assunto dominou a festa do PT sábado, transformada em ato de apoio ao ministro da Saúde, Humberto Costa (PT-PE), cotado para ser substituído.

O prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel, disse que o partido precisa ter ''humildade para reconhecer que, sozinho, não vai governar''. O presidente do PT, José Genoino, defendeu que o partido abra espaço no governo para abrigar aliados.

Em discurso na festa, Costa fez uma defesa de sua administração na Saúde, do governo Lula e aproveitou para atacar a situação da Saúde no Rio de Janeiro, onde a pasta executa uma intervenção nos hospitais. ''Minha gestão é vitoriosa'', disse. ''Desafio quem quer que seja a comparar os nossos resultados com os anteriores.''

O ministro foi aplaudido sempre que citado na solenidade e seu discurso foi interrompido por gritos de ''governador''. Sobre a reforma, Costa disse, em entrevista, que não conversou sobre o tema com o presidente Lula e que mantém a agenda.