Correio Braziliense, n. 21193, 03/06/2021. Política, p. 2

Novo depoimento de Queiroga provoca bate-boca
Jorge Vasconcellos
03/06/2021



O presidente da CPI da Covid, Omar Aziz (PSD-AM), se envolveu em um bate-boca com Marcos Rogério (DEM-RO) depois de dizer que o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, vai ser ouvido novamente pela comissão, na próxima terça-feira, porque "mentiu" no primeiro depoimento, em 6 de maio. A discussão ocorreu ontem, durante a oitiva da médica infectologista Luana Araújo.

Ao criticar Queiroga, Aziz afirmou, também, que o ministro terá de explicar por que concordou com a decisão do presidente Jair Bolsonaro de realizar a Copa América no Brasil no momento em que o país começa a enfrentar uma terceira onda da pandemia. Ele será inquirido, ainda, em razão da insistência do chefe do Planalto de comparecer, sem máscara, a manifestações que causam aglomerações.
Marcos Rogério argumentou que Queiroga não poderia ser convocado a depor na próxima semana porque "está na linha de frente do combate à covid". Aziz rebateu: "Está não, está não".

O senador governista insistiu, dizendo que "o apelo que faço à Vossa Excelência é que deixe o ministro trabalhar". Nesse momento, bastante irritado, Aziz respondeu: "Sabe o que ele (ministro) estava fazendo ontem (terça-feira)? Anunciando a Copa América ao lado do presidente".

O aliado do Planalto insistiu em condenar a convocação de Queiroga. Foi quando o presidente da CPI acusou o ministro de ter mentido no primeiro depoimento à comissão. "Peça para ele não mentir dessa vez", disse Aziz. Marcos Rogério respondeu: "Vossa Excelência não tem autoridade para dizer que ele estava mentindo. Respeite o ministro, respeite os depoentes". "Você não respeita ninguém", devolveu o político amazonense.

Para o senador Humberto Costa (PT-PE), titular da CPI, o novo depoimento de Queiroga será muito importante porque, ao ser ouvido em 6 de maio, garantiu que Bolsonaro lhe dá total autonomia. Mas Luana Araújo relatou à CPI que o Planalto vetou sua nomeação como secretária extraordinária de enfrentamento à covid-19 do Ministério da Saúde. Parlamentares independentes e de oposição acreditam que o motivo do cancelamento da nomeação foram as críticas da infectologista ao uso de hidroxicloroquina e outros medicamentos sem eficácia comprovada contra o novo coronavírus.
"Nós vamos questionar, novamente, essa autonomia que ele disse, aqui, com todas as letras, que tinha para montar sua equipe. Não conseguiu, sequer, indicar aquela que seria a secretária dessa nova secretaria de enfrentamento à pandemia", frisou Costa. "Quando ele esteve aqui, entrou em muitas contradições, mentiu muitas vezes e, posteriormente, algumas dessas mentiras foram verificadas, constatadas. Então, ele terá de explicar essas contradições."