Correio Braziliense, n. 21194, 04/06/2021. Brasil, p. 6

527 mil doses chegam ao país
Vera Batista
04/06/2021



Com a nova remessa de vacina contra a covid-19, Pfizer/BioNTech completa entrega de 2,3 milhões de unidades ao Brasil nesta semana. Enquanto isso, Anvisa se reúne hoje para votar pedidos de importação excepcional dos imunizantes Covaxin e Sputnik V

Novas remessas de vacinas contra a covid-19 estão chegando ao país. O Ministério da Saúde recebeu, ontem, o último de três lotes, vindos de Miami, com doses da Pfizer/BioNTech. O lote, que chegou ao Aeroporto de Viracopos, em Campinas (SP), vindo de Miami, tem 527 mil doses. Somadas às outras remessas, de 936 mil doses cada uma, que chegaram na terça-feira e na quarta-feira passada, serão mais 2,3 milhões de doses nesta semana. Com o novo lote, mais de 5,8 milhões de doses terão sido entregues ao Ministério da Saúde pela farmacêutica desde o fim de abril. Dessas, cerca de 3,5 milhões de doses de vacinas da Pfizer já foram distribuídas aos estados brasileiros e ao Distrito Federal, segundo informações da pasta. Dois contratos firmados entre o governo federal e a farmacêutica vão garantir 200 milhões de doses da vacina até o fim do ano.

A Secretaria da Saúde do estado de São Paulo informou em nota que até o fechamento desta edição não havia recebido ainda nenhuma dose das vacinas da Pfizer do penúltimo lote entregue que chegaram na quarta-feira dos Estados Unidos no aeroporto de Viracopos. Segundo o órgão, sem a entrega, o cronograma de vacinação pode sofrer prejuízo.

Nesta semana, o Ministério da Saúde informou que o governo federal chegou à marca de mais de 100 milhões de fármacos distribuídos aos estados e ao Distrito Federal, proveniente dos laboratórios contratados, distribuídos ao país pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI). Segundo o ministro Marcelo Queiroga, a meta é vacinar toda a população contra o novo coronavírus até o fim do ano.

Apesar das novas remessas, a imunização dos adultos ainda é fonte de preocupação. Levando em consideração as decisões políticas restritivas em curso no país, o médico Alexandre Naime, chefe do Departamento de Infectologia da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e consultor sobre covid da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) e da Associação Médica Brasileira (AMB), afirma não ser possível apontar quando o país terá a maioria da população vacinada.

"O Brasil poderia ter sido protagonista, como deixou claro o presidente da Pfizer na América Latina (Carlos Murillo, em depoimento à CPI da Covid). Hoje, é mero coadjuvante. Já estamos vivendo a terceira onda de contaminação, o que já foi comprovado em pelo menos seis capitais. Vamos chegar a meio milhão de mortes desnecessárias, por causa do total descontrole. E ainda temos a ameaça da Copa América com previsão de aglomerações. Enfim, não dá para fugir da palavra genocídio", afirmou.

Também, ontem, os Estados Unidos incluíram o Brasil na lista das mais de 40 nações que terão direito ao primeiro lote de doações, no total de 25 milhões de doses, segundo anúncio de autoridades americanas. Mas, nesse caso, não se sabe ainda quanto do produto chegará efetivamente em solo nacional, já que um total de 6 milhões de doses serão divididas entre o Brasil e outros 14 países das Américas do Sul e Central.

Covaxin e Sputnik
A diretoria colegiada da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) se reunirá hoje para votar os pedidos de autorização excepcional das vacinas contra a covid-19 Covaxin, do laboratório indiano Bharat Biontech, e Sputnik V, do Instituto Gamaleya, da Rússia. Ambos os imunizantes já foram rejeitados pela agência por falta de dados sobre a produção e segurança de cada fármaco. De acordo com a Anvisa, novos documentos foram apresentados para a análise. Uma vez aprovadas, as vacinas podem ser integradas ao Programa Nacional de Imunização.

O Ministério da Saúde já adquiriu 20 milhões de doses da Covaxin e outras 10 milhões da Sputnik V, que também foi comprada por governadores do Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Segundo a Anvisa, a reunião será transmitida a partir das 10h, pelo canal da entidade no YouTube.

IFA
A Fiocruz recebeu na quarta-feira a primeira remessa dos bancos de células e de vírus necessários para o início da produção nacional do Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA), prevista para começar ainda este mês. Dessa forma, a expectativa é de que em até quatro meses seja reduzida a dependência de insumos para imunizantes vindos de outros países.

Base para a produção do IFA, os dois ingredientes são o "coração" da tecnologia da vacina. Chegaram ao país no dia seguinte à assinatura do contrato de transferência de tecnologia da AstraZeneca para a Fiocruz. A previsão é de que, a partir de outubro, a instituição já distribua imunizantes 100% nacionais — o que é crucial para garantir a autonomia do país. O montante deve chegar a 50 milhões de doses em 2021.

A presidente da Fiocruz, Nísia Trindade, explicou que a projeção divulgada originalmente, de entregar entre 100 milhões e 110 milhões de doses de produção inteiramente nacional até o fim do ano, era uma estimativa feita de acordo com o conhecimento tecnológico que se tinha na época, antes mesmo de o imunizante ter sido aprovado. Agora, com a transferência da tecnologia concluída, a realidade se revelou mais complexa.(Com agências Estado e Brasil)

Frase

"O Brasil poderia ter sido protagonista (...). Hoje, é mero coadjuvante. Já estamos vivendo a terceira onda de contaminação, o que já foi comprovado em pelo menos seis capitais. Vamos chegar a meio
milhão de mortes desnecessárias, por causa do total descontrole. E ainda temos a ameaça da Copa América com previsão de aglomerações. Enfim, não dá para fugir da palavra genocídio"

Alexandre Naime, chefe do Departamento de Infectologia da Unesp