Título: Dantas sai oficialmente de fundo
Autor: Samantha Lima
Fonte: Jornal do Brasil, 19/03/2005, Economia & Negócios, p. A19

Banqueiro entregou documentos que concluem sua destituição da gestão do CVC internacional

O banqueiro Daniel Dantas deu o braço a torcer e encaminhou, no início da tarde de ontem, os documentos exigidos pela Justiça americana para sua destituição como administrador do fundo CVC Equity Partners, o chamado CVC internacional. Com a medida, o banqueiro deixa de ter oficialmente influência como gestor nas empresas nas quais o fundo tem controle, entre elas a Brasil Telecom e a Telemig Celular. O afastamento do empresário havia sido solicitado pelo Citi, que instituiu o fundo em 1997.

Criado com o objetivo de investir em empresas de telecomunicações à época das privatizações, o CVC Equity Partners reúne recursos de estrangeiros. Um outro fundo CVC, com carteira semelhante, instituído na mesma ocasião, representava investidores brasileiros, em sua maioria fundos de pensão. Insatisfeitos com a condução dos negócios, os brasileiros destituíram Dantas em 2003, antecipando a movimentação agora concluída pelo Citibank. Os recursos do fundo nacional foram direcionados à gestora Angra Partners e o fundo, rebatizado de Investidores Institucionais.

Há duas semanas, o CVC internacional firmou com os brasileiros acordo para que, juntos, se tornassem controladores de quatro das seis empresas nas quais têm participação. Na Brasil Telecom, eles somarão 90% do controle acionário.

A empresa havia se tornado alvo de uma briga entre os fundos, o Opportunity e a Telecom Italia, que também integrava seu bloco acionário. A italiana havia se afastado da BrT para poder lançar a TIM. Mas, quando tentou voltar, foi impedida por Dantas, o que deu início a uma disputa envolvendo até suspeita de espionagem.

Em meados de 2004, foi descoberto que a Brasil Telecom havia contratado a agência Kroll, supostamente para investigar a Telecom Italia. Reportagem publicada na Folha de S. Paulo revelou, ontem, que o Citigroup, até então minoritário da BrT, soube das investigações no início de 2004. A porta-voz do Citigroup Shannon Bell afirmou, no entanto, que o Citi só soube da investigação quando ela já havia sido contratada pela Brasil Telecom e que a empresa não colaborou na remuneração do serviço.

Apesar de não ter mais o controle acionário da Brasil Telecom nas mãos de seu banco, Daniel Dantas não deverá se afastar da disputas. É o que pensa Alberto Guth, sócio da Angra Partners. Dantas acaba de chegar de Londres, onde participou de um Tribunal Arbitral sobre o caso da Brasil Telecom. Na Justiça do Rio, ele obteve na última quarta-feira liminar que suspendia decisão favorável à Telecom Itália no direito de retornar à BrT.

- Mas as disputas não fazem sentido porque Dantas está afastado do controle. Mas ele sempre alegou que fazia isso não pelo Opportunity, mas em nome da BrT - disse Guth.

Cerca de 60 pessoas ligadas a Daniel Dantas serão destituídas de 250 posições estratégicas ocupadas nas empresas controladas pelos fundos. Procurado, o Opportunity não se pronunciou sobre o caso.