Título: Concorrência na rota da Transpetro
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 21/03/2005, Economia, p. A19

Empresário Daniel Birmann busca US$ 184 bi para disputar mercado com subsidiária da Petrobras

Única operadora de navios petroleiros do país, a subsidiária de logística da Petrobras, a Transpetro, passará a sofrer a concorrência de um armador privado brasileiro, pela primeira vez em sua história. Na próxima reunião, prevista para maio, o conselho do Fundo de Marinha Mercante analisará o pedido de um financiamento de US$ 184 milhões da nova operadora, a Lagoa Azul Transportes Navais, que quer iniciar a empreitada com a construção de três petroleiros gigantes, do tipo Aframax. Dependendo da demanda projetada para até 2015, outras três embarcações do mesmo porte podem ser encomendadas a estaleiros nacionais.

Se receber o aval do Fundo, que é gerenciado pelo BNDES, esse novo empreendimento do empresário Daniel Birmann, do banco Arbi, poderá fortalecer uma ala da Petrobras contrária ao monopólio da Transpetro, por considerar pouco competitivos os fretes da subsidiária. Fontes de Brasília advertem, no entanto, que a composição de capital da nova companhia representa obstáculo à liberação dos recursos pelo Fundo. Os conselheiros deixaram de votar o pedido de financiamento na última reunião, ocorrida em março, por estranharem a presença de empresas sediadas no paraíso fiscal das Ilhas Virgens na estrutura de capital da Lagoa Azul.

Além da Aurizônia, sócia da maior parte dos empreendimentos industriais de Birmann, a composição da Lagoa Azul inclui a Cemisa, que é formada pela MSB Participações; Cemepe Investimentos; Arbi Rio Incorporações Imobiliárias; BFZ Participações; Enguia Power; e Stam Participações. Juntando-se as participações, cerca de 40% do capital da Lagoa Azul provêm das Ilhas Virgens. Roberto Dieckmann, gerente do estaleiro Rio Grande - outros empreendimentos do Arbi -, afirma que, por trás dessas empresas, estão investidores da família Birmann, que não estariam operando de forma irregular.

Embora o discurso oficial de seus executivos passe ao largo de qualquer provocação à Transpetro, a verdade é que, caso consiga driblar a desconfiança dos conselheiros do Fundo, na próxima reunião, a nova operadora estará próxima de quebrar o monopólio da Frota Nacional de Petroleiros (Fronape), hoje sob controle da Transpetro. Os conselheiros - aí incluído o secretário de Fomento do Ministério dos Transportes, Sérgio Bacci - solicitaram, para a próxima reunião, um melhor detalhamento da estrutura societária da Lagoa Azul.

Para os próximos meses, a expectativa do Arbi é investir também no segmento de construção naval, com a implantação do estaleiro Rio Grande, no município gaúcho de mesmo nome. Com o novo estaleiro, o grupo também quer prestar serviços para a Transpetro, com a construção de alguns dos 42 petroleiros que estão em licitação pela subsidiária de logística da Petrobras. Para isso, entregou na última quarta-feira a documentação exigida para se pré-qualificar à concorrência. Se for bem-sucedido, o Arbi estará presente em todos os segmentos da cadeia offshore.

No ano passado, Birmann arrematou com a Aurizônia a concessão de 28 áreas em terra, na Bacia Potiguar. Dieckmann afirma que, embora o grupo invista na construção de um novo estaleiro, o atual patamar dos fretes justifica a antecipação da construção dos Aframax em estaleiro de terceiros. Segundo o executivo, os navios provavelmente serão construídos no Estaleiro Ilha S.A (Eisa).

Pelos cálculos do executivo, a demanda por petroleiros em todo o mundo deverá determinar a construção de 37 Aframax até 2015. A licitação da Transpetro garantirá a construção de 17 petroleiros desse tipo.