Título: Crianças na Televisão
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 19/03/2005, Braasília / Opinião, p. D2
A legislação brasileira prevê uma série de determinações destinadas a proteger a infância e a adolescência. Todos conhecem os cuidados que a mídia precisa tomar para proteger os menores, inclusive os culpados de crimes violentos e hediondos. No Brasil, como no mundo todo, existe hoje uma forte ação contra a pedofilia e contra a prostituição infantil. A população está cada vez mais consciente da necessidade de proteger as nossas crianças. Dentro desse quadro são chocantes os flagrantes de exploração da imagem de menores em programas de entretenimento, não apenas na internet, mas também - e principalmente - na televisão. As tardes de sábado, em especial, fornecem exemplos constrangedores nesse sentido. Mas não é apenas nelas que isso ocorre.
Há poucos dias era possível encontrar um garoto de apenas dois anos apresentado como uma espécie de curiosidade zoológica porque, segundo a apresentadora do programa e segundo a mãe, reconhecia as imagens de todos os santos do calendário. A pobre criança tentava escapar das perguntas por todos os meios, fugindo da entrevistadora e driblando um auxiliar desta - evidentemente sem conseguir.
Em outro programa, em outro quadro, mas no mesmo dia, apareciam menininhas em trajes mais que sumários, imitando cantoras popozudas em bailes funk. Ainda que a produção garantisse que se tratava de algo absolutamente asséptico, o apelo sexual era mais do que evidente.
Claro que por trás de cada criança desss existe sempre um pai ou responsável ganancioso. Por isso mesmo são inócuas as exigências de autorização para que se apresentem nos palcos. É preciso algo mais.
A censura certamente não será esse caminho. Os brasileiros lutarem muito, e durante longo tempo, para conseguir a liberdade de expressão. Não podem sacrificá-la. Nenhuma forma de cercear essa liberdade pode ser admitida. Por isso mesmo se torna indispensável encontrar-se maneira de refrear esse tipo de abuso.