Correio Braziliense, n. 21196, 06/06/2021. Cidades, p. 15

Escolha de vacinas compromete imunização
Samara Schwingel
Edis Henrique Peres
06/06/2021



Trabalhadores de postos de vacinação relatam que, em um dia, ao menos 20 pessoas deixaram de receber doses porque não queriam imunizante disponível na unidade de atendimento. Executivo local adota medidas para evitar esse problema e conscientizar a população

Com mais de quatro meses de vacinação contra a covid-19 e três imunizantes diferentes disponíveis para o público, a campanha do Distrito Federal enfrenta outro desafio além da pandemia. Uma onda considerável de pessoas, segundo servidores da Secretaria de Saúde (SES-DF), tem adiado o próprio atendimento porque quer escolher a marca da vacina que tomará. Para especialistas, esse comportamento pode atrasar o processo de proteção da população contra o novo coronavírus e, consequentemente, o fim da crise sanitária.

Para evitar esse tipo de comportamento e conscientizar a população, a pasta tem publicado notas técnicas que comprovam a segurança das vacinas e que reforçam a importância de a imunização ocorrer o mais rápido possível. Além dessa, houve medidas mais drásticas. A última prevê que quem agendar o atendimento, mas, por algum motivo, não comparecer na data marcada terá até cinco dias corridos para voltar ao posto e receber a dose. Caso contrário, perderá a vaga.

Para evitar queda na procura, o Executivo local também lançou a campanha "Não importa a marca, o importante é vacinar". O objetivo é avançar na ampliação da campanha. Porém, apesar da expectativa, a SES-DF não definiu um calendário de vacinação para a população em geral. A justificativa é a dependência do repasse de doses por parte do Ministério da Saúde — nesse processo, não há informação antecipada ou com detalhes sobre o envio.

A infectologista Sylvia Lemos, da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), afirma que a rejeição das pessoas contra algumas vacinas é fruto da desinformação e que isso pode atrapalhar a imunização. "Não é para escolher. No momento em que estamos, quanto mais pessoas se vacinarem, melhor. Isso é importante para que possamos ter mais de 70% ou 80% da população atendida. Assim, uma pessoa protege a outra", defende. Até ontem, a Secretaria de Saúde havia aplicado 683,2 mil unidades de imunizantes como primeira dose — alcançando 22,3% do total de habitantes do DF —, e 328,6 mil como reforço (10,7%).

Dia a dia

Coordenadora do posto de vacinação do Estacionamento 13 do Parque da Cidade, a enfermeira Camila Gaspar relata que viu, por enquanto, cerca de 50 pessoas desistirem da vacinação por não encontrarem doses do laboratório desejado. "Está bem difícil. Há muitas fake news sobre o tema e, com isso, muita gente quer escolher o tipo da vacina. Há pessoas que fazem o agendamento para o Parque da Cidade, por exemplo, mas, quando chegam aqui, descobrem que não temos a de uma determinada marca. Por isso, vão embora sem receber o imunizante", conta.

O relato de Camila se repete em outras unidades básicas de saúde (UBSs) da capital federal. Em uma delas, um vigilante, que preferiu não se identificar, disse que, em um dia, 20 pessoas preferiram voltar para casa sem vacina. Outros profissionais da linha de frente do posto de atendimento questionam a conduta: "Nem a gente, que trabalha com a imunização do público, escolhe qual vacina quer. Quando temos dose, damos graças a Deus e já mostramos o braço, porque só o que queríamos era estarmos seguros contra a doença", comenta uma enfermeira que pediu para não ter o nome divulgado.

Comerciante e morador da Asa Norte, Valdemar Júnior, 47 anos, recebeu a primeira dose na sexta-feira retrasada, na UBS 1 do Cruzeiro. Ele é do grupo de pessoas com comorbidades. "Vacina é vacina. Se fosse antigamente, nem haveria tantos questionamentos como hoje. Quando eu era menino, a gente simplesmente se vacinava. Nem conhecíamos como era esse processo. E as doses também podiam não ser 100% eficazes e ter efeitos colaterais", comenta.

Onde se vacinar
Confira a lista de postos de
atendimento que funcionam hoje:
Águas Claras, das 9h às 17h
» Uniplan — Av. das Castanheiras (drive-thru)
Ceilândia, das 9h às 17h
» Sesc de Ceilândia — QNN 27, Área Especial S/N, Ceilândia Norte (drive-thru)
Plano Piloto, das 9h às 17h
» Estádio Nacional Mané Garrincha (drive-thru)
» Torre de TV (drive-thru)
» Parque da Cidade (drive-thru)
Taguatinga, das 9h às 17h
» Taguaparque — Colônia Agrícola Samambaia, Pistão Norte (drive-thru)

Diferenças

CoronaVac (Butantan/SinoVac)
Produzida pela farmacêutica chinesa SinoVac em parceria com o Instituto Butantan, a CoronaVac recebeu a autorização de uso emergencial pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Para confecção da vacina, o Sars-CoV-2 é inativado com uso de substâncias químicas e se torna incapaz de causar a covid-19. Em seguida, há adição de hidróxido de alumínio à solução, o que induz a produção de anticorpos em quem recebe a dose. Ela precisa de duas doses, com o intervalo entre 14 e 28 dias, para ter eficácia total. Cerca de duas semanas depois da aplicação do reforço, a imunização está completa.

Oxford/AstraZeneca (Fiocruz)
Vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford e fabricada pela biofarmacêutica sueca AstraZeneca. No Brasil, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) é parceira na produção do inoculante e recebe o insumo farmacêutico ativo (IFA) da empresa. A vacina usa uma tecnologia chamada vetor viral e é confeccionada a partir de um adenovírus de chimpanzés. O composto é manipulado para inserir no código genético o gene da proteína spike (S), presente no novo coronavírus. Assim, o micro-organismo perde a capacidade de se multiplicar no corpo humano e de provocar a doença. Depois de um processo químico, essa solução compõe a vacina, estimulando a resposta imunológica do organismo contra a proteína S, na forma de anticorpos e células T. O imunizante também requer dose dupla para completar a proteção. O intervalo entre as aplicações é de três meses.

Pfizer/BioNTech
O imunizante da farmacêutica norte-americana Pfizer em parceria com o laboratório alemão BioNTech, requer aplicação de duas doses, com intervalo de 21 dias entre elas. A vacina usa a tecnologia do RNA mensageiro (mRNA), por meio da qual um trecho do material genético do vírus que corresponde à proteína spike (S) é manipulado em laboratório de forma sintética, empacotado em uma molécula e incorporado à vacina. Quando aplicada, ela induz o corpo a produzir essa proteína, desencadeando, também, uma resposta imunológica do organismo.