Título: Sem articulação, cada um por si no plenário
Autor: Daniel Pereira, Karla Correia e Paulo de Tarso
Fonte: Jornal do Brasil, 22/03/2005, País, p. A3

O futuro ministro da Coordenação Política terá pela frente um cenário de terra arrasada. O Planalto luta para reconstruir a unidade no Congresso, que lhe garantiu a aprovação das reformas da Previdência e Tributária em 2003, mas que virou um pesadelo no ano passado. Uma sangria que se arrastou ao longo de 2004, com votações bloqueadas por falta de liberação de emendas parlamentares, e prosseguiu no início deste ano, com a eleição de Severino Cavalcanti (PP-PE) para a presidência da Câmara. Semana passada, mais uma prova dos tempos árduos enfrentados pelos articuladores políticos do governo. Diante de um Executivo perdido, foi aprovada a inclusão dos delegados federais no subteto do Judiciário, discussão travada na emenda paralela da Previdência. Na Comissão de Constituição e Justiça, os deputados aprovaram um projeto que aumenta o número de beneficiados pela Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS). O custo estimado é R 26 bilhões ao ano.

- Não há como negar: as feridas estão por toda parte - reconheceu o líder do PTB, José Múcio Monteiro (PE).

Para ele, a demora na definição só faz adiar o drama dos aliados. Lembra que a reforma estava prevista para outubro, mas o governo resolveu esperar as eleições municipais. Passou para dezembro, porém o Planalto optou por adiar, mais uma vez, por conta da eleição para a presidência da Câmara. Seria no fim de fevereiro, mas veio o bloqueio das verbas do Orçamento. A Semana Santa está batendo à porta e, até agora, nada.

- Tem de se fazer uma reforma qualquer, mas logo. Não podemos ficar nesta expectativa, parados, do jeito que estamos - prosseguiu Múcio.

Nas votações da semana passada, ninguém seguia a orientação do governo. Era cada um por si no plenário. O deputado Antônio Carlos Magalhães Neto ficou espantado.

- Eles estão perdidos. Ou acertam logo essa coordenação ou vão continuar perdendo as votações em plenário - disse o pefelista.

O descontrole é tão grande que durante a votação da Medida Provisória 228, que definia novas regras de sigilos para os documentos oficiais, o Executivo quase perdeu em uma votação simbólica. Durante a apreciação de um dos destaques feitos pelo PFL, os governistas em plenário precisavam levantar as mãos para derrubar a proposta. Poucos levantaram. O deputado José Thomaz Nonô (PFL-AL), que presidia a sessão, repetiu a votação.

Desesperado, Luizinho gritava para que os aliados mexessem os braços. Deu empate visual, e o líder do governo teve que pedir verificação de quorum, para aí sim garantir a vitória do Planalto.