Correio Braziliense, n. 21199, 09/06/2021. Política, p. 2

...e CPI da Covid avalia convocá-lo
Bruna Lima
Jéssica Gotlib
09/06/2021



O auditor Alexandre Figueiredo Costa Silva Marques, do Tribunal de Contas da União (TCU), entrou na mira da CPI da Covid por ter elaborado um "estudo paralelo" sustentando que metade das mortes atribuídas à covid-19 ocorreu por outros motivos.

O senador da oposição Humberto Costa (PT-PE) protocolou, ontem, um requerimento para convocar o servidor. Para embasar o pedido, o parlamentar citou a reportagem do jornalista Vicente Nunes, do Correio Braziliense, que revelou a autoria do estudo paralelo. "Entendo importante o depoimento do convocado", enfatizou. Em seguida, o presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), pediu para que o colega acrescentasse um requerimento de quebra de sigilo. "Faz logo um pedido completo para a gente votar amanhã (hoje)", afirmou.

O vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), ressaltou que mais importante do que uma convocação do servidor é a quebra de sigilo de dados. "É importante apurarmos por que esse auditor fez isso e quais os interesses. Isso tem relação direta com esta comissão parlamentar", argumentou. Segundo o senador, a atitude do auditor é criminosa e serviu como suporte para que o presidente Jair Bolsonaro espalhasse "uma notícia mentirosa sobre o tribunal que, em seguida, foi desmentida pelo próprio órgão".

Durante a sessão da comissão que tomou o depoimento do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) definiu como fake news a citação do estudo paralelo. "O presidente (Bolsonaro) tinha plena consciência de que estava falando uma mentira, e isso é inaceitável, porque, se o líder da nação não se engaja, o senhor (Queiroga) pode morrer trabalhando, porque o brasileiro não vai usar máscara, não vai respeitar isolamento, buscar segunda dose da vacina, porque esse líder busca desinformar a cada segundo", criticou.

Retratação

Ontem, Bolsonaro admitiu que falhou em creditar o estudo paralelo ao TCU. "Vou só explicar uma coisa aqui, a questão do equívoco, eu e o TCU, de ontem. O TCU está certo, eu errei quando falei tabela", disse, em conversa com apoiadores.

O mandatário tomou para si a responsabilidade sobre o documento que deixou de ser um relatório e se transformou em "tabela", mas insistiu que há superdimensionamento do número de mortes por covid-19. "A tabela quem fez foi eu, não foi o TCU. O TCU não errou em falar que a tabela não é deles. A imprensa usa para falar que fui desmentido, o tempo todo é assim", disparou.