Título: Juiz rejeita emitir parecer
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Fonte: Jornal do Brasil, 22/03/2005, Internacional, p. A7
Após manobra política, magistrado pede tempo para avaliar caso de eutanásia
WASHINGTON - Depois de quase duas horas de audiência, um juiz federal não emitiu parecer sobre o futuro da americana Terri Schiavo, cujos tubos que a alimentavam foram desligados sexta-feira, depois de decisões de tribunais locais, que atenderam ao pedido do marido, Michael Schiavo. A reinserção do aparato foi solicitada pelos pais da paciente, que há sete anos disputam com Michael o caso na Justiça.
O juiz James Whittemore deu a cada lado 30 minutos para expor suas posições, mas concluiu a sessão dizendo que precisava avaliar o caso, sem dar qualquer indicação de quando emitirá uma sentença.
- Não direi a vocês onde, como ou quando isto acontecerá.
O advogado dos pais de Terri, David Gibbs, pediu pressa à Justiça:
- Se esta corte não agir rapidamente, todo o processo será em vão pois Terri vai morrer.
A previsão é a de que a paciente, de 41 anos e em estado vegetativo há 15, sobreviva entre uma e duas semanas sem alimentos nem água.
O caso foi parar nas mãos de Whittemore depois que republicanos, que tradicionalmente se apresentam como defensores da limitação do papel do Estado na vida privada, votaram durante o fim de semana uma lei, em caráter emergencial, transferindo a decisão para a jurisdição federal. A norma foi promulgada durante a madrugada pelo presidente George Bush.
- Ficamos muito agradecidos por ter cruzado esta barreira - disse Suzanne Vitadamo, irmã de Terri.
O pai, Bob Schindler, que a visitou pela manhã, também comemorou:
- Perguntei se ela estava pronta para dar uma volta, que íamos levá-la para uma pequena viagem e dar a ela café da manhã. Ela abriu um enorme sorriso - disse.
Ante a possível decisão do juiz a favor da reinserção do tubo, uma ambulância ficou de prontidão na porta da casa de repouso onde Terri está internada para levá-la ao hospital.
- Este é um caso complexo que envolve questões muito sérias - disse Bush. - Mas em situações extraordinárias como esta, é sábio pender pelo lado da vida.
Michael disse ter ficado escandalizado com a intervenção do Congresso. Ele é o guardião legal de Terri e alega que a própria mulher teria dito antes do ataque cardíaco, que a deixou em estado vegetativo, que não gostaria de ser mantida viva com a ajuda de aparelhos.
- Hoje é um dia triste não só para Terri, mas para todos nesse país, porque o governo dos EUA a partir de agora poderá vir e atropelar todas as suas questões pessoais e familiares.
A deputada Nancy Pelosi, líder democrata na Casa dos Representantes, fez coro, numa prova de que a discussão passional invadiu o Congresso:
- Os legisladores não devem substituir seu próprio julgamento pelo dos tribunais locais, que consideraram o caso uma questão familiar profundamente pessoal - comentou.
Consciente do problema em potencial gerado pela intervenção do Congresso, o líder republicano no Senado, Bill Frist, qualificou a lei como ''única'' e que ''não deverá servir de precedente''.
- Há circunstâncias extraordinárias que tocam um dos valores e das virtudes mais fundamentais da humanidade: o caráter sagrado da vida.
A intervenção também conta com a reprovação da maioria dos americanos (79%), segundo pesquisa do canal ABC. Além disso, 67% opinaram que os parlamentares envolveram-se por razões políticas e não por princípios e 63% são a favor da remoção dos tubos.
Ontem, o jornal do Vaticano disse que ninguém tem o direito de decidir sobre a vida ou morte de um ser humano.