Correio Braziliense, n. 21205, 15/06/2021. Política, p. 2
Crise de Manaus entra no foco da CPI
16/06/2021
No depoimento de hoje do ex-secretário de Saúde do Amazonas Marcellus Campelo, comissão quer descobrir o motivo da falta de oxigênio nos hospitais da cidade, que provocou dezenas de mortes, e a relação do governo federal com a tragédia
A CPI da Covid pretende fazer, hoje, ao ex-secretário de Saúde do Amazonas Marcellus Campelo as perguntas que não puderam dirigir ao governador do Amazonas, Wilson Lima (PSC). O gestor do estado conseguiu, no Supremo Tribunal Federal (STF), o direito de escolher se iria ou não prestar depoimento na comissão — e preferiu não comparecer. Sem Lima no colegiado, Campelo será bombardeado com questões relativas à unidade da Federação. O principal ponto é entender a crise de oxigênio em Manaus, que vitimou pacientes com o novo coronavírus, e a data em que o governo federal foi alertado para o risco da falta do insumo no estado.
Em depoimento à CPI, o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello se contradisse sobre a data em que soube da crise — disse, primeiro, que foi em 10 de janeiro, mas, no segundo dia de oitiva, afirmou que foi alertado em 7 de janeiro. Já a secretária de Gestão do Trabalho e Educação em Saúde do Ministério da Saúde, Mayra Pinheiro, mencionou outra data à comissão: 8 de janeiro.
Os senadores de oposição e independentes devem se empenhar em entender quando o governo federal teve indícios da iminência da falta do insumo no estado e sobre as ações tomadas no sentido de sanar o problema. Os parlamentares da base, por sua vez, vão tentar colocar a culpa no estado e explorar o assunto relativo a desvios de recursos destinados ao combate à pandemia. Principalmente porque uma operação da Polícia Federal, no início do mês, atingiu o governador e o ex-secretário, que chegou a ser preso. A ação apurava a contratação fraudulenta para favorecer empresários na construção de hospital de campanha.
O senador Rogério Carvalho (PT-SE) ressaltou que a presença de Campelo será importante pelo fato de ele ter vivenciado o epicentro da segunda onda. "Tem muito a informar, já que o governador conseguiu o habeas corpus para que não viesse. Ele tem as informações sobre o que aconteceu, por que não tomaram iniciativa para fazer o que se espera diante de uma situação emergencial", disse.
Wizard
O empresário Carlos Wizard continua sem responder às tentativas de contato da CPI. Ontem à noite, os senadores de base e da oposição se reuniram para discutir as estratégias da semana. Um dos pontos da conversa foi a respeito da eventual condução coercitiva do convocado.
Sem a presença de Wizard, o plano B da comissão será ouvir o auditor Alexandre Marques, do Tribunal de Contas da União (TCU). A oitiva dele consta na agenda para quinta-feira, tendo em vista a possível ausência de Wizard.
O depoimento de Witzel também é muito esperado pela oposição. O senador Rogério Carvalho ressaltou que o ex-gestor do Rio de Janeiro "tem muito a informar sobre a relação do governo, orientações que ele recebeu do Executivo federal, como o governo discutiu os encaminhamentos durante a pandemia", tendo em vista a quantidade de mortos por covid-19 no estado.
Já o senador Humberto Costa (PT-PE) destacou que o depoimento de Witzel será importante para a CPI saber como o governo federal agiu em relação ao estado no combate à pandemia. Apesar da expectativa em torno do ex-governador — que sofreu processo de impeachment e é opositor do presidente Jair Bolsonaro —, existe a possibilidade de ele não comparecer. Witzel pediu, ontem, ao STF o direito de decidir se irá ou não comparecer ao colegiado.