Título: Doentes mentais vivem no caos
Autor: Lorenna Rodrigues
Fonte: Jornal do Brasil, 22/03/2005, Brasília, p. D4

Distritais constatam a falta de condições de atendimento no Hospital São Vicente de Paula para doentes psiquiátricos

Paredes infiltradas, poças d'água pelo chão, bebedouros quebrados, banheiros interditados. Em meio a esse cenário, 25 psiquiatras lutam para atender até 110 pacientes por dia na emergência, fora os 74 internados no Hospital São Vicente de Paula (HSVP), em Taguatinga para doentes psiquiátricos. A situação encontrada pela Comissão dos Direitos Humanos da Câmara Legislativa, em visita ao hospital na manhã de ontem, revelou o descaso com a saúde mental no DF. - Essa é a quarta visita que nós fazemos ao Hospital São Vicente de Paula e a situação vem piorando desde a primeira vez que aqui viemos. É hora de dar um basta nessa situação, tão logo o novo secretário de Saúde, José Geraldo Maciel, tomar posse, marcaremos uma reunião para tomarmos medidas emergenciais - disse a presidente da comissão, deputada distrital Érika Kokay (PT).

Na visita estavam também a deputada Eliana Pedrosa (PFL) e representantes do Ministério Público e dos Conselhos Regionais de Psicologia, Enfermagem e Medicina. A comissão encontrou problemas na infra-estrutura no hospital, como infiltrações, goteiras, banheiros sem condições de uso, falta de material de trabalho e de medicamentos.

Na Farmácia Ambulatorial, um aviso apontava a falta de 12 medicamentos, como Diazepam e Fluoxetina. O diretor do hospital, Mário Crispim, admitiu que a falta dos remédios representa perigo à saúde dos pacientes e maiores gastos aos cofres públicos.

- Os remédios que estão faltando são medicação de uso contínuo que, se o paciente não tomar pode ter a doença agravada e até necessitar de internação, superlotando ainda mais o hospital - disse Mário Crispim.

A aposentada Stella Maris voltou para casa sem a Fluoxetina que toma há oito anos para controlar a depressão. Desesperada, mostrava as bolhas no colo e barriga produzidas, segundo ela, pela falta do remédio.

- Há seis meses o medicamento está em falta e eu tenho que pegar dinheiro emprestado para comprar, mas não é sempre que eu posso. Acabo ficando sem o remédio e não há nada que eu possa fazer, não tenho mais a quem recorrer - reclamou.

Na emergência, onde são atendidos de 40 a 110 pessoas por dia, pacientes se amontoam nos corredores ou tentam dormir em camas sem lençóis. Segundo uma enfermeira que preferiu não se identificar, os pacientes da emergência deveriam permanecer no hospital por apenas 48 horas mas acabam ficando por até 20 dias, por falta de vagas na internação. Na ala subcrônica, onde os pacientes deveriam ficar por até 45 dias, muitos ficam indefinidamente porque não têm para onde ir.

Nos corredores da ala subcrônica, os problemas de infra-estrutura são visíveis. Poças de água formadas pela água da chuva do dia anterior ainda estavam no chão. A ferrugem corroeu as portas de metal, formando pontas afiadas que representam risco à integridade física dos pacientes.

O local que um dia foi reservado para o descanso dos médicos deu origem a duas enfermarias, criada com a colocação de apenas um tapume para dividir os espaços.

- Falta até um balcão na enfermaria para o preparo dos medicamentos e uma pia para os enfermeiros lavarem as mãos. O custo de um balcão é ínfimo. É só uma questão de vontade política - acrescentou Érika Kokay.