Título: Bom colesterol pode ser nocivo
Autor: Claudia Bojunga
Fonte: Jornal do Brasil, 22/03/2005, Saúde & Ciência, p. A12

Segundo estudos do Incor, HDL em baixas quantidades contribui para o acúmulo de gordura nas artérias

Altas taxas de colesterol são muito temidas porque estão associadas a problemas de saúde. Mas o que muita gente não sabe é que se o bom colesterol estiver em quantidade muito baixa no organismo pode ter efeitos nocivos, contribuindo para aterosclerose - um tipo de arteriosclerose no qual há o acúmulo de gordura na parede das artérias. A conclusão é de três pesquisas realizadas pela equipe da Unidade de Aterosclerose do Instituto do Coração de São Paulo (Incor).

O colesterol pode ser dividido em dois grupos: o bom e o mau. O primeiro, chamado HDL, é conhecido assim porque em quantidades normais remove o colesterol da corrente sanguínea, levando-o para o fígado, onde é processado. Isto evita seu depósito nas artérias. O ruim, denominado LDL, em quantidades muito altas se concentra nas paredes das artérias. Ambos, com suas taxas fora do padrão, podem causar infarto e derrame. Atualmente, problemas coronários afetam 4 milhões de brasileiros.

- O colesterol ruim é o principal vilão dos problemas coronários, mas não é o único - afirma o cardiologista Protásio Lemos da Cruz.

O médico coordenou um estudo realizado com 165 pessoas que tiveram um entupimento parcial das artérias coronárias e foram submetidas à cirurgia de ponte de safena. Do total de participantes, 101 pessoas tinham a taxa do bom colesterol abaixo do padrão, com menos 35 mg/dl, e 64 apresentavam índices acima desse número.

Após seis anos e três meses, 20,7% do grupo com baixa quantidade de HDL morreu, enquanto a porcentagem correspondente no outro grupo foi de 6,25%. Isto mostra que quando um indivíduo tem o bom colesterol abaixo do padrão ideal - 40 mg/ dl de sangue - fica mais exposto a incidentes pós-cirúrgicos, já que o efeito protetor do HDL diminui.

Para se prevenir contra essas baixas taxas é necessário praticar exercícios físicos, não fumar e estar no peso ideal. É bom lembrar que também há a predisposição genética. O índice reduzido do bom colesterol é um problema que afeta de 4% a 8% da população.

O empresário Yassin Mohamed Yones, de 50 anos, tem suas taxas no nível ideal, mas conta que a tarefa não é fácil:

- Não fumo, cuido da alimentação e faço exames regulares desde os 35 anos.

Mas Protásio alerta que ao fazer o teste, não adianta prestar atenção apenas à taxa total. É preciso analisar as frações do colesterol, isto é, de cada tipo separadamente.

- Faço o exame uma vez por ano - conta Enaldo Amaral, gerente comercial, de 30 anos. Entretanto, não sabia dos riscos do HDL.

Em outro estudo, com 494 pessoas submetidas à operação de ponte de safena, constatou-se que quanto maior a taxa de glicerídios (tipo de gordura que circula no sangue) e mais reduzido o nível de bom colesterol, cresce a probabilidade de se desenvolver a aterosclerose, principalmente de forma precoce, por volta dos 50 anos.

Outra pesquisa comparou 30 pessoas com a taxa reduzida de HDL e 11 com taxas normais desse tipo de colesterol, medindo o diâmetro da artéria do braço de cada uma. O primeiro grupo teve uma dilatação menor dos vasos sanguíneos, o que favorece o desenvolvimento de aterosclerose.