Correio Braziliense, n. 21213, 23/06/2021. Política, p. 4

Salles: 2º delegado deixa investigação
23/06/2021



Responsável pela operação que fez buscas contra o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, o delegado Franco Perazzoni foi dispensado, no último dia 17, do comando da Delegacia de Repressão a Corrupção e Crimes Financeiros da Polícia Federal no Distrito Federal. Mas, apesar de perder o cargo de chefe da unidade, ele segue conduzindo as investigações que estavam sob sua alçada, inclusive a que mirou o aliado do presidente Jair Bolsonaro.

A decisão sobre a remoção do delegado de um posto estratégico da PF no DF teria partido de dentro da Superintendência da unidade, dizem fontes da corporação. A dispensa de Perazzoni já foi publicada no Diário Oficial da União (DOU). Seu substituto é Gustavo de Souza Buquer dos Santos.

"Grave esquema"

O delegado é quem assina a representação de 92 páginas que culminou na abertura da fase ostensiva da Operação Akuanduba. A investigação mira um "grave esquema de facilitação ao contrabando de produtos florestais" e está sob relatoria do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal.
No documento enviado ao STF, Perazzoni apontou "fortes indícios" de envolvimento do ministro em um suposto esquema de corrupção para exportação ilegal de madeira. O acervo de provas inclui relatos de reuniões com madeireiros, alterações nas regras de fiscalização, trocas de mensagens, depoimentos de testemunhas e operações financeiras suspeitas, que atingem o escritório de advocacia de Salles em São Paulo. Após a deflagração da Akuanduba, o ministro negou irregularidades e disse que Moraes foi "induzido ao erro" ao autorizar a operação, classificada por ele como "exagerada" e "desnecessária".

Perazzoni não é o primeiro delegado a deixar um posto de comando após mirar o ministro do Meio Ambiente. Em abril, Alexandre Saraiva "caiu" da chefia da Superintendência da PF no Amazonas após enviar notícia-crime ao Supremo Tribunal Federal (STF) atribuindo a Salles supostos crimes de obstrução de investigação ambiental, advocacia administrativa e organização criminosa. No mês seguinte, Saraiva foi removido da unidade da PF no Amazonas e transferido para a delegacia da corporação em Volta Redonda, no Rio de Janeiro.