Título: Lula decide acabar com a novela
Autor: Sérgio Pardellas, Paulo de Tarso , Sérgio Prado
Fonte: Jornal do Brasil, 23/03/2005, País, p. A3

Presidente desiste de promover uma reestruturação ampla e só faz substituições na Previdência e no Planejamento

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou ontem apenas duas mudanças na equipe ministerial e considerou encerrada a reforma da Esplanada. Depois de maturar a modificação por quase meio ano, o chefe do Executivo, contrariando as expectativas por uma ampla reestruturação, nomeou apenas o deputado Paulo Bernardo (PT-PR) para o Planejamento e o senador Romero Jucá (PMDB-RR) para a Previdência em substituição, respectivamente a Nélson Machado, que ocupava interinamente o Planejamento, e Amir Lando . O porta voz da Presidência da República, André Singer, divulgou uma nota oficial anunciando os novos nomes e informando que a partir de agora o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ''decidiu encerrar as conversações em torno da reforma ministerial''.

A idéia de uma reforma ampla foi abandonada por dois motivos. Havia pressão demasiada dos partidos pelos cargos e a dificuldade de o Planalto fechar um acordo amplo com PMDB e PP em torno da disputa eleitoral de 2006, em que Lula tentará a reeleição.

O presidente também deixou claro que a relação com a base de apoio no Congresso será feita pela ampliação do diálogo, a partir de projetos específicos. Os interlocutores nesta empreitada serão os senadores Fernando Bezerra (PTB-RN) e Aloizio Mercadante (PT-SP), líderes do governo no Legislativo e no Senado. Eles terão a companhia agora do deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), nomeado ontem líder do governo na Câmara, no lugar do deputado Professor Luizinho (PT-SP).

Hoje pela manhã, o presidente Lula reúne todos os ministros no Palácio do Planalto na primeira reunião ministerial do ano. O objetivo é reforçar os compromissos com as principais teses do governo, como o crescimento econômico e investimentos em infra-estrutura e na área social, e promover o que ele chamou de choque de gestão.

Ontem, aliados do PMDB, como Renan Calheiros (AL) e o senador José Sarney (AP), ainda apostavam em novas alterações mais adiante.

- A reforma não aconteceu. O presidente apenas suspendeu a reforma para não definir nada sob pressão- disse Renan.

Para Sarney, o governo de coalizão ainda é um desejo do presidente Lula. Mas em reunião da coordenação política no Planalto, minutos antes da posse dos novos ministros, Lula, depois de ponderar que as mudanças que se desenhavam trariam ''mais dor de cabeça ao governo'', teria dado a reforma como concluída.

O ultimato do presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), anteontem, condicionando a permanência do PP na base aliada à nomeação do deputado Ciro Nogueira (PP-PI) para o Ministério das Comunicações, foi o argumento que faltava para Lula promover a reforma idealizada por ele desde outubro do ano passado. Ou seja, uma reforma restrita, com mudanças apenas pontuais.

Pressionado por aliados, pelo chefe da Casa Civil, José Dirceu, e pelo presidente do Congresso, Renan Calheiros, o presidente Lula chegou a ser convencido, mesmo a contragosto, depois da vitória de Severino na Câmara, da necessidade de ampliar o leque das mudanças, com a incorporação do PP, da senadora Roseana Sarney (PFL-MA) na Esplanada e o remanejamento do PMDB para um ministério mais robusto de verba e cargos. Mas como não havia garantias de que a reforma amarraria as alianças para as eleições de 2006, levaria à unidade da base governista no Congresso, muito menos agregaria qualidade à gestão do governo. Lula, estimulado pelas declarações de Severino, depois de refletir melhor na noite de anteontem, decidiu recuar.

Segundo uma graduada fonte da Casa Civil, o presidente também fazia sérias restrições a alguns nomes indicados pelos partidos aliados durante as negociações da reforma, a cargo de Dirceu e Mercadante. Nunca havia digerido com facilidade uma possível nomeação de Roseana Sarney. Nem de Ciro Nogueira, o preferido do PP.

- Cada ministeriável tinha um padrinho. Do jeito que estava, quem menos mandaria no governo seria o Lula - avaliou um líder governista.

Lula também nunca escondeu ter dificuldades em demitir os ministros das Cidades, Olívio Dutra (PT-RS), da Coordenação Política, Aldo Rebelo (PCdoB-SP), da Saúde, Humberto Costa e o das Comunicações, Eunício Oliveira.

Diante do novo cenário, os líderes da bancada governista começaram a traçar uma estratégia para dar um choque de gestão também no Parlamento. A intenção é fortalecer o colégio de líderes fazendo com que o governo tenha maior controle sobre a pauta de votações.