Correio Braziliense, n. 21218, 28/06/2021. Brasil, p. 5

Variante delta faz duas vítimas no Brasil
Israel Medeiros
28/06/2021



Mortes foram confirmadas pelo Ministério da Saúde ontem. Primeiro caso ocorreu no Paraná, no mês de abril. Caso é tratado por autoridades como importado. Segunda vítima da cepa chegou ao país a bordo de navio, vindo da Malásia, e faleceu em São Luís

O Ministério da Saúde confirmou, ontem, as duas primeiras mortes causadas pela variante delta —também conhecida como cepa indiana — da covid-19 no Brasil. O primeiro óbito ocorreu há mais de dois meses, dia 18 de abril, no Paraná. A vítima era uma gestante de 42 anos. A segunda morte foi notificada ao Ministério da Saúde no sábado (26), um homem de 54 anos.

O primeiro caso é relatado pela Secretaria de Estado de Saúde do Paraná como importado. A vítima veio do Japão e chegou no dia 5 de abril. Antes de embarcar, fez o teste para covid-19, que deu negativo. No dia 7, foi visitada por uma amiga, filha da idosa de 71 anos que foi o primeiro caso confirmado com a variante delta no estado. No mesmo dia, a gestante começou a apresentar os sintomas e fez um novo teste, com resultado positivo.

A mulher foi internada no dia 15 de abril e faleceu no dia 18, quando seu quadro piorou e precisou ser submetida a uma cesária de emergência, com 28 semanas de gravidez. O recém-nascido ficou internado até o dia 18/06. De acordo com a Secretaria de Saúde, tanto o bebê quanto a família da gestante estão saudáveis e seguem em acompanhamento pelo município. O sequenciamento genético que identificou a variante foi feito pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

Segundo a secretaria, a família, que vive em Apucarana (PR), teve contato com parentes de outra cidade, Rolândia. O rastreamento feito pelo estado identificou que pelo menos outros 12 casos de covid-19 no município estavam diretamente ligados à ela. O secretário de Saúde do Paraná, Beto Preto, disse, após a confirmação da variante, que não há motivo para alarde ou pânico.

"Precisamos continuar tomando todas as medidas de precaução que têm sido ao longo do tempo vastamente informadas: distanciamento, uso de máscaras, de álcool em gel, mas ,ao mesmo tempo, precisamos pensar que estamos entrando no inverno. E o inverno, muitas vezes, seleciona as pessoas em ambientes fechados. Isso pode facilitar a transmissão de qualquer tipo de vírus, incluindo as cepas e variantes do próprio coronavírus", afirmou, em uma transmissão ao vivo.

No entanto, a demora para a confirmação do óbito causado pela variante delta é considerada preocupante por especialistas. A infectologista Ana Helena Germoglio explica como funciona o processo. "O sequenciamento consiste em pegar uma amostra do vírus da pessoa e ver que tipo de vírus é esse. Com base nisso, dá para saber de onde ele veio, as mutações e qual a linhagem. Assim, é possível estabelecer programas de vigilância. Se comparar o Brasil com o Reino Unido, a gente faz 1% de tudo o que eles fazem em questão de sequenciamento. Porque falta investimento. Por isso a gente fica sem saber qual a linhagem que chegou. O exame não deveria demorar tanto", afirmou.

Anamélia Lorenzetti Bocca, professora titular da UnB e doutora em imunologia, esclarece que a demora nos resultados da Fiocruz se explica porque a Fundação é um centro de referência. "A demora de dois meses na Fiocruz provavelmente é porque a demanda lá é muito grande, porque é um centro de referência. Neste momento, o Ministério da Saúde deveria ampliar os centros de referência, para ter mais agilidade. Em termos de vigilância, dois meses é muito tempo", completou.

O segundo óbito confirmado pelo Ministério da Saúde reporta a morte de um indiano, 54 anos, tripulante do navio chinês MVS Shandong da ZMI, que atracou na costa do Maranhão no início de maio. O homem estava internado há 43 dias na rede privada de saúde de São Luís (MA). O paciente, segundo o Ministério, passou a apresentar sintomas no dia 13 de maio e testou positivo para a covid-19 no dia 17 do mesmo mês.

O navio recebeu autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para atracar na costa maranhense após cumprir quarentena. A liberação veio após os 24 membros da tripulação testarem negativo para a covid-19. A embarcação partiu da Malásia para São Luís, contratado pela Vale para o transporte de minério de ferro.